Resumo: | Compostos de Tributilestanho (TBT) são biocidas com um largo espectro de ação, utilizados em inúmeras aplicações industriais. Nos anos 60, estes compostos foram utilizados como agente ativo em tintas anti-vegetativas de barcos, bóias, plataformas e outras estruturas submersas, para prevenção de bioincustração. Quando libertados nos ecossistemas aquáticos a sua toxicidade provoca diversos efeitos biológicos em espécies não-alvo. Um desses efeitos é o desenvolvimento de caracteres sexuais masculinos sobre o trato reprodutivo de fêmeas de gastrópodes prosobrânquios, um fenómeno apelidado por imposex. A expressão do imposex é um efeito direto da exposição in situ ao TBT e é utilizado como biomarcador da sua poluição. As várias e generalizadas descrições de elevados níveis de poluição por TBT levaram à implementação de legislações extremamente restritivas da utilização destes compostos. Atualmente, e desde 2008, estão interditas a aplicação e circulação de compostos de TBT em embarcações e portos de estados membros da União Europeia, bem como em embarcações de países que assinaram a Convenção Internacional para a Convenção de Sistemas Antivegetativos Prejudiciais em Navios (Convençao AFS). Contudo, e apesar de estar reportado uma redução na poluição ambiental por TBT após estas medidas, estes compostos podem estar a ser utilizados em países em desenvolvimento, o que requer uma monitorização constante. Além disso, mesmo onde os inputs não são permitidos, a monitorização de sedimentos é requerida, pois este compartimento constitui um reservatório de TBT, acumulado durante as décadas de uso intenso. Várias espécies bioindicadoras podem ser utilizadas para avaliação do imposex e monitorizar a poluição por TBT. Estas devem ser selecionadas cuidadosamente, dependendo da sua abundancia e distribuição na área de estudo e também do compartimento que está a ser monitorizado. De forma a avaliar o estado da poluição por TBT e a sua evolução temporal durante a última década na Ria de Aveiro (Noroeste de Portugal), em especial nos sedimentos, foi utilizado o gastrópode Hydrobia ulvae como espécie bioindicadora. Os 10 locais de amostragem selecionados foram monitorizados em 1998, e em 2003/2004/2007, sendo revisitados em 2012. Os níveis de imposex foram avaliados e os compostos organoestânicos (OTs) foram quantificados nos sedimentos. Ocorreu uma diminuição geral das concentrações de TBT em sedimentos entre 1998 e 2012. No entanto, os níveis de imposex na H. ulvae não diminuíram durante o mesmo período. Em vez disso, houve um aumento global da percentagem de fêmeas afetadas pelo imposex (variou entre 76-100%) e uma manutenção geral do índice da sequência do vaso deferente (VDSI; oscilou entre 0,93 e 1,17). Assim, existe outra razão para além da exposição ao TBT que causa a manutenção da intensidade do imposex e a prevalência deste fenômeno, que aumenta ao longo deste sistema estuarino. Na verdade, a percentagem de indíviduos parasitadas também aumentou ao longo da área de estudo entre 2003 e 2012. Aliás, todas as fêmeas infestadas exibiam imposex e nenhuma fêmea não afetada pelo imposex estava parasitada. Assim, o fenómeno do imposex pode ser uma consequência do aumento deste parasitismo em populações Hydrobia ulvae na Ria de Aveiro, facto corroborado pelos d ados recolhidos no estudo presente. Através de análises estatísticas foi demostrado um efeito positivo da presença de parasitas nos índices VDSI (P = 1,4x10-3) e FPL (tamanho do pénis feminino; P = 8,4x10-5), ao contrário do efeito das concentrações de TBT nos sedimentos nos mesmos parâmetros (P = 0,62 e P = 0,99, respectivamente). No entanto, mais estudos são necessários para confirmar esta hipótese de que pode restringir o uso desta espécie como bioindicador da poluição por TBT em populações parasitadas.
|