Hydrobia ulvae: 15 years of imposex monitoring in Ria de Aveiro

Compostos de Tributilestanho (TBT) são biocidas com um largo espectro de ação, utilizados em inúmeras aplicações industriais. Nos anos 60, estes compostos foram utilizados como agente ativo em tintas anti-vegetativas de barcos, bóias, plataformas e outras estruturas submersas, para prevenção de bioi...

ver descrição completa

Detalhes bibliográficos
Autor principal: Domingues, Filipa Marisa Orêncio (author)
Formato: masterThesis
Idioma:eng
Publicado em: 2018
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10773/9642
País:Portugal
Oai:oai:ria.ua.pt:10773/9642
Descrição
Resumo:Compostos de Tributilestanho (TBT) são biocidas com um largo espectro de ação, utilizados em inúmeras aplicações industriais. Nos anos 60, estes compostos foram utilizados como agente ativo em tintas anti-vegetativas de barcos, bóias, plataformas e outras estruturas submersas, para prevenção de bioincustração. Quando libertados nos ecossistemas aquáticos a sua toxicidade provoca diversos efeitos biológicos em espécies não-alvo. Um desses efeitos é o desenvolvimento de caracteres sexuais masculinos sobre o trato reprodutivo de fêmeas de gastrópodes prosobrânquios, um fenómeno apelidado por imposex. A expressão do imposex é um efeito direto da exposição in situ ao TBT e é utilizado como biomarcador da sua poluição. As várias e generalizadas descrições de elevados níveis de poluição por TBT levaram à implementação de legislações extremamente restritivas da utilização destes compostos. Atualmente, e desde 2008, estão interditas a aplicação e circulação de compostos de TBT em embarcações e portos de estados membros da União Europeia, bem como em embarcações de países que assinaram a Convenção Internacional para a Convenção de Sistemas Antivegetativos Prejudiciais em Navios (Convençao AFS). Contudo, e apesar de estar reportado uma redução na poluição ambiental por TBT após estas medidas, estes compostos podem estar a ser utilizados em países em desenvolvimento, o que requer uma monitorização constante. Além disso, mesmo onde os inputs não são permitidos, a monitorização de sedimentos é requerida, pois este compartimento constitui um reservatório de TBT, acumulado durante as décadas de uso intenso. Várias espécies bioindicadoras podem ser utilizadas para avaliação do imposex e monitorizar a poluição por TBT. Estas devem ser selecionadas cuidadosamente, dependendo da sua abundancia e distribuição na área de estudo e também do compartimento que está a ser monitorizado. De forma a avaliar o estado da poluição por TBT e a sua evolução temporal durante a última década na Ria de Aveiro (Noroeste de Portugal), em especial nos sedimentos, foi utilizado o gastrópode Hydrobia ulvae como espécie bioindicadora. Os 10 locais de amostragem selecionados foram monitorizados em 1998, e em 2003/2004/2007, sendo revisitados em 2012. Os níveis de imposex foram avaliados e os compostos organoestânicos (OTs) foram quantificados nos sedimentos. Ocorreu uma diminuição geral das concentrações de TBT em sedimentos entre 1998 e 2012. No entanto, os níveis de imposex na H. ulvae não diminuíram durante o mesmo período. Em vez disso, houve um aumento global da percentagem de fêmeas afetadas pelo imposex (variou entre 76-100%) e uma manutenção geral do índice da sequência do vaso deferente (VDSI; oscilou entre 0,93 e 1,17). Assim, existe outra razão para além da exposição ao TBT que causa a manutenção da intensidade do imposex e a prevalência deste fenômeno, que aumenta ao longo deste sistema estuarino. Na verdade, a percentagem de indíviduos parasitadas também aumentou ao longo da área de estudo entre 2003 e 2012. Aliás, todas as fêmeas infestadas exibiam imposex e nenhuma fêmea não afetada pelo imposex estava parasitada. Assim, o fenómeno do imposex pode ser uma consequência do aumento deste parasitismo em populações Hydrobia ulvae na Ria de Aveiro, facto corroborado pelos d ados recolhidos no estudo presente. Através de análises estatísticas foi demostrado um efeito positivo da presença de parasitas nos índices VDSI (P = 1,4x10-3) e FPL (tamanho do pénis feminino; P = 8,4x10-5), ao contrário do efeito das concentrações de TBT nos sedimentos nos mesmos parâmetros (P = 0,62 e P = 0,99, respectivamente). No entanto, mais estudos são necessários para confirmar esta hipótese de que pode restringir o uso desta espécie como bioindicador da poluição por TBT em populações parasitadas.