Summary: | As hortas urbanas de cabo-verdianos são uma realidade incontornável da Área Metropolitana de Lisboa. Surgem nos taludes das auto-estradas, nas imediações de bairros informais e sociais ou junto a ribeiras que sobreviveram ao encanamento. Nestes lugares, homens e mulheres cultivam milho, feijão, e cana-de-açúcar transportando-nos, por vezes, para a paisagem do seu país de origem. As hortas urbanas têm uma função de resistência económica; todavia, ali surgem também importantes sociabilidades, fundamentais para a vida urbana, ligando estas pessoas entre si, aos seus bairros e à cidade. Nestes lugares, os cabo-verdianos reproduzem parte das relações sociais do seu passado camponês. No entanto, estas transformaram-se, “torceram-se” e “desaguaram” em novas e originais sociabilidades. Na cidade, o cabo-verdiano já não depende da terra como no passado e isso tem implicações na realidade social das hortas. Se outrora foram camponeses, em Portugal transformaram-se em proletários urbanos, resistindo a um processo de exploração e exclusão que aí sofreram. As hortas são uma demonstração da luta dos cabo-verdianos pelo direito a “Lisboa” e uma das múltiplas demonstrações daquilo que têm oferecido à realidade social desta cidade. Percorrendo hortas e bairros, estudos urbanos e do campesinato, este trabalho pretende entender esta complexa e cativante realidade.
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