Neurobiologia da perturbação obsessivo-compulsiva e novos horizontes terapêuticos

A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) é uma doença neuropsiquiátrica potencialmente incapacitante, com uma prevalência de 2 a 3% na população em geral. Manifesta-se por ideias, imagens ou impulsos ansiógenos recorrentes (obsessões) e/ou comportamentos repetitivos destinados a reduzir a tensão emo...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Pina, Ana Ortins (author)
Formato: masterThesis
Idioma:por
Publicado em: 2010
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10316/30444
País:Portugal
Oai:oai:estudogeral.sib.uc.pt:10316/30444
Descrição
Resumo:A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) é uma doença neuropsiquiátrica potencialmente incapacitante, com uma prevalência de 2 a 3% na população em geral. Manifesta-se por ideias, imagens ou impulsos ansiógenos recorrentes (obsessões) e/ou comportamentos repetitivos destinados a reduzir a tensão emocional (compulsões). Fenomenologicamente, o cerne da doença é a impressão subjectiva de que «algo está errado». É controversa, na literatura, a questão da origem da doença. Nas últimas décadas, diversos progressos técnico-científicos determinaram uma transição dum paradigma eminentemente psicológico para um modelo etiopatogénico que integra e valoriza aspectos biológicos. Neste trabalhos, abordamos e discutimos o conhecimento actual sobre as manifestações e a neurobiologia da POC, bem como os tratamentos disponíveis, incluindo a estimulação cerebral profunda. Partindo duma compreensão global actualizada desta patologia, pretendemos fornecer uma base racional para o desenvolvimento e optimização de estratégias terapêuticas.Tem sido proposto que a POC se acompanha de alterações funcionais e estruturais nos circuitos cortico-estriato-tálamo-corticais que envolvem os córtices orbitofrontal e cingulado anterior e o núcleo caudado. Estes modelos são apoiados por diversos estudos que descrevem uma hiperactividade nestas regiões, que «normaliza» após o tratamento. A hipótese serotoninérgica realça o envolvimento da serotonina na disfunção dos circuitos fronto-subcorticais. Adicionalmente, o sistema dopaminérgico, com o qual interage a serotonina, parece desempenhar um papel importante na expressão dos sintomas. O tratamento da POC baseia-se na farmacoterapia com agentes serotoninérgicos, e na terapia cognitivo-comportamental. Contudo, aproximadamente 10% dos doentes não desenvolvem sintomas graves, incapacitantes e refractários. A estimulação cerebral profunda, um método de neuromodulação funcional reversível e ajustável, afirmou-se recentemente como uma promissora alternativa terapêutica na POC refractária. A estimulação de alvos subcorticais específicos diminui a gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos, ansiosos e depressivos e melhora o funcionamento global, com efeitos adversos relativamente infrequentes e/ou ligeiros, permitindo um aumento apreciável da qualidade de vida dos doentes. Encontra-se por definir o alvo de estimulação que optimize eficácia e segurança.Num momento de intenso desenvolvimento de novas terapêuticas, permanecem por esclarecer diversas dúvidas sobre os mecanismos da POC. Assim, serão oportunas investigações neurofisiológicas que esclareçam os mecanismos desta perturbação, relacionando-os com as manifestações clínicas. Esperamos que uma abordagem racional, baseada em evidência convergente, conduza a estratégias terapêuticas mais eficazes e seguras, de modo a beneficiar os doentes que permanecem incapacitados a despeito dos tratamentos convencionais actuais.