Summary: | Este trabalho desenvolve um novo modelo teórico com implementação na prática pré-compositivo, estando na sua base relacionado com dois sistemas que revelam duas perspectivas bem diferenciadas: o Serialismo de Schoenberg e a Twelve-Tone Tonality de George Perle. Embora ambos de alicerce serialista, Schoenberg via a sua série dodecafónica a funcionar como motivo, e é esta polarização linear (horizontal) que deve trazer toda a unidade da obra; por outro lado, a Twelve-Tone Tonality de Perle resulta em progressões de simultaneidade harmónica (vertical) com base na interpolação e concatenação de séries cíclicas simétricas. Perle, compositor e teórico norte-americano, conhece o serialismo de Schoenberg nos anos 30. Entusiasmado com o sistema procura extrair simultaneidades duma matriz dodecafónica, mas logo percebe que essas simultaneidades resultam de modo fortuito, ao acaso e com pouca ou nenhuma relação1. A exceção estava nas séries com base em ciclos simétricos. Ernst Krenek, confrontado com a primeira tentativa serialista de Perle num esboço para quarteto de cordas, disse-lhe que tinha interpretado de um modo errado o sistema dodecafónico, mas ao mesmo tempo tinha feito aquilo que apelidou de ‘uma descoberta’. As séries baseadas na conjunção de intervalos cíclicos e inversões simétricas são as únicas que possibilitam extrair simultaneidades de uma matriz dodecafónica de forma consistente e previsível. A constatação da existência destes ciclos simétricos tinha já começado com o estudo levado por Perle sobre a música de Alban Berg, visível em vários livros e artigos. Perle vê-se assim conduzido a uma teoria que enfrenta exatamente a problemática da simultaneidade, a que viria a chamar de início Twelve-Tone Modality, mais tarde com a colaboração de Paul Lansky com a designação de Twelve-Tone Tonality. Este estudo revela um serialismo de Schoenberg essencialmente estruturado na perspectiva linear, enquanto os ciclos simétricos de Perle são essencialmente estruturados em progressões verticais. Surge aqui a necessidade de desenvolver um novo modelo compositivo decidido a beneficiar duma articulação específica entre os sistemas de Schoenberg e de Perle, extrapolando e definindo as suas mais valias idiossincráticas. Este modelo teórico de nome Geometria Serial, apoia-se na direccionalidade motívica de Schoenberg e na sistematização estrutural harmónica de Perle, mas pretende-se mais aglutinador na dicotomia melodia/harmonia, assumindo uma abordagem interativa entre os planos horizontal e vertical, e cimentando as suas premissas nos princípios de simetria e de geometria, centros de apoio poderosos, como se verá ao longo do presente estudo. Como a base deste modelo é a interação entre uma dada série e o constrangimento das possíveis soluções harmónicas à luz do sistema, recorreu-se à informática musical de forma a acelerar o processo de cálculo. O desenvolvimento da sua implementação e a sua associação à Composição Algorítmica Assistida por Computador (CAAC) é determinante na escolha da aplicação PWGL para essa mesma implementação. Perto do final, a composição de um número substancial de obras musicais resultam exatamente do processo de identificação de anteriores modelos e de transformação com o novo modelo desenvolvido. Afigura-se a sua análise e discussão de resultados. As conclusões finais dão por terminado o processo metodológico, abrindo no entanto portas a novas questões e perspectivas para futuros trabalhos relacionados com as matérias abordadas e com o atual desenvolvimento desta teoria.
|