Summary: | Sustentado na abordagem da Cognição Social Situada para a compreensão dos processos de formação de impressões e julgamento social, o presente trabalho explora o efeito de uma variável contextual – odor – nestes fenómenos. Mais concretamente, analisamos em que medida a manipulação indirecta (i.e., semântica) do odor afecta diferentes julgamentos. Com base em argumentos de ordem química, anatómica e teórica, partimos da hipótese nula de que o odor não se encontraria ancorado na linguagem, pelo que a sua activação semântica não teria efeito na avaliação de alvos abstractos e sociais, nem se generalizaria a julgamentos acerca do experimentador nem do contexto experimental. Para testar esta ideia, conduzimos um estudo experimental, em que participantes primados semanticamente com um odor agradável (“perfumar”) ou desagradável (“empestar”) efectuaram um conjunto de julgamentos. Os resultados apoiam a hipótese proposta, não se tendo verificado um efeito significativo da manipulação do odor nas medidas dependentes utilizadas. Adicionalmente, aos argumentos de natureza química, anatómica e teórica que sustentam a hipótese nula acrescentamos uma argumento de natureza estatística. Assim, e de forma a consolidar a ausência de resultados significativos, realizámos uma power analysis, que comprovou a existência de um efeito negligente da manipulação do odor nas respectivas medidas. Conclui-se, por isso, que o odor, com uma natureza sensorial distinta das restantes modalidades sensorias (e.g. visão), parece não se encontrar ancorado na linguagem, nomeadamente, para situações de julgamento social.
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