Summary: | A saúde encontra-se perante um novo paradigma, impulsionado por uma necessidade sócio-económica de mudança, onde o auto-cuidado é visto como um recurso escondido na sociedade, para suplantar a falência dos sistemas de saúde face ao envelhecimento da população. A enfermagem encaixa-se perfeitamente neste modelo, pois mantém a atitude de estabelecer parcerias com o cliente/família no sentido de os ajudar a atingir e a melhorar o projecto de saúde que traçaram, investindo na investigação para desenvolver conhecimento científico que sirva de base à profissionalização dos cuidados de enfermagem centrados nas respostas dos clientes às transições que vivenciam. Seguindo esse trajecto opta-se por estudar o fenómeno do autocuidado, restringindo-o à satisfação das actividades de vida diária que são comuns a todas as pessoas. A investigação realizada nesse domínio, apesar de muito extensa em algumas áreas específicas, revelou-se escassa relativamente à existência de estudos substantivos que expliquem o fenómeno da perda da autonomia face ao autocuidado, em contexto domiciliar, após um evento gerador de dependência. Perante tal evidência, realizou-se um estudo de natureza qualitativa, exploratório-descritivo, adoptando a metodologia para gerar uma Grounded Theory com o intuito de explorar o fenómeno em contexto domiciliar, esperando que o conhecimento desenvolvido possa ajudar a melhorar os cuidados de enfermagem. A selecção dos participantes foi realizada em contexto hospitalar (no período de internamento após o evento gerador de dependência), sendo que a recolha de dados teve início (recorrendo à técnica de observação participante) após o seu regresso a casa, optando-se por indivíduos com dependência, pela primeira vez, no autocuidado relativo às actividades de vida diária. O estudo revela que perante situações de vulnerabilidade relativamente ao autocuidado, os indivíduos vêem-se obrigados a iniciar processos de transição. Nessas situações, emergem diversos factores intrínsecos (atributos do sujeito; status psicológico; e conhecimento) e extrínsecos (apoio social; status económico; a sociedade; e a tradição) ao sujeito que interferem com essa vivência, originando respostas (indicadores de processo) que são utilizadas pelos enfermeiros para adequarem as terapêuticas de enfermagem. Por fim, os resultados surgem revelando uma vivência salutar da transição, que não são mais que o ponto de partida para uma nova realidade.
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