Resumo: | Em sociedades cada vez mais abertas, permeáveis e multiculturais como as atuais, a escola e as suas atividades são fundamentais para a formação de futuros cidadãos, ao promover aspetos relevantes da cidadania ativa como aqueles relacionados com o diálogo intercultural e o conhecimento mútuo (pessoal e coletivo). Esta investigação perfila-se no entendimento de que a educação intercultural é uma abordagem educativa que favorece a abertura à diversidade cultural, assentando no pressuposto de que a valorização da diversidade e do diálogo intercultural promove conhecimentos, atitudes e competências interculturais considerados como relevantes para a atualidade, uma vez que levam a um melhor interconhecimento relativamente ao outro e por consequência, combatem a exclusão, a xenofobia, o racismo e a discriminação. Neste contexto, o presente estudo centra-se na análise das atividades do Clube Europeu (CE) da Escola Secundária de São Pedro do Sul (ESSPS) destinadas aos alunos do Ensino Básico regular, desenvolvidas ao longo do ano letivo de 2010-2011, procurando observar como estas promovem o diálogo intercultural nos alunos e facultam uma melhor informação acerca da Europa, contribuindo deste modo para uma maior compreensão do pluralismo europeu. No ano em causa, a investigadora acompanhou pessoalmente todas as atividades realizadas pelo CE para os alunos acima referidos, já que a investigação decorreu na escola onde leciona, e aplicou, ela própria, os instrumentos de recolha de dado no sentido de verificar os objetivos propostos. Trata-se portanto de um estudo de caso de características etnográficas, de cariz qualitativo, onde a investigadora assumiu o papel de observador participante. Após a realização de cada atividade do CE neste ano letivo, foram recolhidos os dados da investigação por meio da aplicação de um inquérito por questionário aos alunos que as realizaram, aos professores e encarregados de educação participantes numa delas (o “Projeto Quem Somos?”), às chefias intermédias e de topo da escola, à Coordenadora do CE da ESSPS e ao Coordenador Nacional dos Clubes Europeus. Pretendia-se, com estes questionários, conhecer as suas opiniões sobre a ação e as potencialidades e/ou constrangimentos do CE da escola estudada. Todos os dados foram analisados de acordo com a técnica de análise de conteúdo e com base num dispositivo de análise construído a partir do modelo de Competência Intercultural de Byram (1997). Os resultados obtidos parecem apontar para o facto de a ação deste CE ter dado a conhecer a diversidade cultural europeia, nomeadamente a sua composição e funcionamento, a sua diversidade linguística, as suas tradições e património construído. Ajudou também a formar e preservar a identidade cultural e a valorizar essa mesma diversidade, assim como a viver os valores europeus. Promoveu competências de sabercompreender e saber-fazer relativamente a outros povos e culturas, particularmente a compreender os problemas económicos e sociais, a importância das línguas na comunicação e os desafios da realidade atual, contribuindo também para que os alunos aprendessem a descentrar-se de si próprios colocando-se no lugar do outro, e, vivendo experiências de diálogo, aumentassem a sua autonomia pessoal, no exercício da sua cidadania. As chefias intermédias e de topo assim como os dirigentes do Clube Europeu da escola e dos clubes nacionais afirmaram, como potencialidades das atividades do CE da ESSPS, aspetos relacionados com a valorização do respeito pelo outro e sua cultura associada ao aumento do conhecimento histórico e cultural e a aprendizagens transversais dos alunos; referiram ainda um maior trabalho cooperativo entre professores e alunos e uma maior ligação escola-família-comunidade, dando cumprimento ao seu Projeto Educativo. Relativamente aos constrangimentos, afirmaram-se limitações de caráter temporal, financeiro e logístico, assim como de mobilização da escola e da comunidade e de interconhecimento e trabalho colaborativo entre Clubes Europeus, em particular entre os do distrito de Viseu. Tratando-se de um estudo bastante circunscrito e de cariz exploratório, não é possível fazer generalizações, dada a ausência de outras investigações sobre o funcionamento e atividades de outros Clubes Europeus, nomeadamente no mesmo distrito. No entanto, pelos resultados obtidos parecenos haver aspetos nas atividades dos Clubes Europeus (ou pelo menos nas do CE analisado) que reputamos como fundamentais para o crescimento dos jovens, tais como o conhecimento do pluralismo europeu, a valorização da diversidade cultural e a promoção do diálogo intercultural, numa Europa a necessitar de unidade e refundação assentes em valores partilhados, coletivamente assumidos e para os quais a escola pode e deve contribuir.
|