Resumo: | O permafrost dá origem a formas de relevo complexas e únicas, sendo os polígonos de cunha de gelo o acidente geográfico mais amplo, mais visível e mais característico das planícies com permafrost. Os polígonos são formados pela abertura de fracturas verticais por contracção térmica, permitindo a infiltração de água de fusão e a sua posterior recongelação no interior das fendas. Este fenómeno, que se repete em ciclos sazonais de congelamento/descongelamento ao longo dos anos, levando ao incremento de cunhas de gelo no interior das fracturas e ao desenvolvimento de redes de polígonos. A morfologia dos polígonos de cunha de gelo é controlada, por vários factores ambientais, que determinam as suas dimensões, forma e orientação, bem como pelo tempo desde o qual estes factores estão activos. Este estudo foi realizado nas redes poligonais do vale Adventdalen em Svalbard. Parâmetros morfométricos das redes foram calculados para mais de 10.000 polígonos identificados através de detecção remota em imagens de alta resolução (quatro bandas RGB + NIR com 0,2 m / pixel). Paralelamente, várias destas áreas de polígonos foram estudadas in situ em 2010, 2011 e 2012. Os parâmetros morfométricos e topológicos das redes foram caracterizados e foram utilizadas análises estatísticas multivariadas (análise factorial, classificação hierárquica e análise discriminante) para os classificar e identificar sua relação com factores ambientais locais. Com base na similaridade morfométrica (dimensão, forma e topologia) foram identificados seis grandes grupos de polígonos. A sua distribuição espacial em Adventdalen, no que respeita à morfometria geral, indica uma diferenciação de Oeste para Este. Os grupos localizados na parte ocidental do vale têm uma maior assimetria no tamanho do polígono, enquanto mais a Este foi encontrada uma distribuição mais uniforme da área média do polígono, bem como maiores dimensões globais dos polígonos. A diferenciação espacial identificada sugere um controlo espacial na morfometria dos polígonos, provavelmente influenciado por variáveis geoecológicas, que podem afectar o crescimento e a forma dos polígonos. Os resultados da análise discriminante mostram que os factores geoecológicos (e.g. geologia, geomorfologia, declividade, índice de umidade, distância ao rio/mar) contribuem para classificar com sucesso mais de 80% dos polígonos dentro dos seis principais grupos morfométricos.
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