A instituição do Espaço Lírico na Narrativa Breve de Domingos Monteiro

A obra de Domingos Monteiro (Barqueiros, Mesão Frio, 06/11/1903 – Lisboa 17/08/1980) não tem merecido por parte da crítica, pelo menos em quantidade, uma atenção homóloga à qualidade estético-literária e axiológica que, apesar de tudo, ensaístas de nomeada lhe reconheceram, alguns ainda em vida do a...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Lopes, Fernando Alexandre (author)
Format: bookPart
Language:por
Published: 2015
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.19/2924
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ipv.pt:10400.19/2924
Description
Summary:A obra de Domingos Monteiro (Barqueiros, Mesão Frio, 06/11/1903 – Lisboa 17/08/1980) não tem merecido por parte da crítica, pelo menos em quantidade, uma atenção homóloga à qualidade estético-literária e axiológica que, apesar de tudo, ensaístas de nomeada lhe reconheceram, alguns ainda em vida do autor. A par desta precariedade, são de realçar, entretanto, os dois trabalhos de maior fôlego, ou de maior abrangência, levados a cabo, em épocas muito diferentes, por Álvaro Ribeiro (1965) e Teresa Seruya (2003), sobre o escritor-jurisconsulto, que também foi historiador, crítico literário, autor de textos doutrinários, membro da Academia das Ciências, diretor de Serviços das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, entre outras funções de destaque. Domingos Monteiro, apesar de ter feito também incursões pela poesia (de que as primeiras publicações são um fulgurante testemunho: Orações do Crepúsculo, em 1920, e Nau Errante, em 1921 – acervo acrescido mais tarde pelos volumes Evasão e Sonetos, respetivamente em 1953 e 1978), foi sobretudo um prócere no conto e na novela, tendo merecido, por isso, o encómio do professor e escritor Eugénio Lisboa de “um dos maiores ficcionistas de sempre e, seguramente, o maior contista português do século XX”. De facto, o escritor teve outras aventuras genológicas, como o drama A Traição Inverosímil e o romance O Caminho para Lá; no entanto, e como afirmou, em relação a este último volume, Teresa Seruya, “o fôlego romanesco é demasiado exigente para o talento sintético de Domingos Monteiro”. O vetor hermenêutico de que nos ocupamos prende-se, então, com o corpus textual dos Contos e Novelas de Monteiro, materializado em quinze títulos, num total de sessenta histórias, relativamente às quais iremos, como parece razoável, proceder a uma triagem que se revele representativa da tal instituição do espaço lírico que julgamos patente, de forma indelével, em fragmentos textuais diversos. Assim, a nível do espaço, pretendemos, com esta investigação, mostrar como Domingos Monteiro construiu um espaço lírico e poético, em relação ao campo e à cidade do país natal e às altas planícies de Castela, a que não faltam também alusões ao Brasil, a África e a certos países europeus. Nesta perspetiva, é nosso objetivo mostrar como o autor de O Mal e o Bem conseguiu conciliar simultaneamente a sua invulgar capacidade de efabulação com a mestria de transfigurar o real, resultando desta fusão uma liricização, em que a narratividade não se perde e a emotividade flui, ora nas personagens, ora no narrador, que muitas vezes também é personagem. Por outras palavras: talvez a recorrência de certos espaços na narrativa breve de Domingos Monteiro derive de uma intromissão da voz lírica do autor na sua criação ficcional.