Resumo: | A extinção das Ordens Religiosas, em 1834, no contexto das políticas liberais, levou os conventos a conhecerem um processo de “desmantelamento” que conduziu à descontextualização e perda de muitas obras de arte. Porém, medidas em prol da salvaguarda do património, protagonizadas por D. Pedro IV (1798-1834), por D. Maria II (1819-1853) e também pelos seus sucessores, D. Pedro V e D. Luís, assentes na criação de uma estrutura organizada para o efeito, revelar-se-iam fundamentais na protecção de diverso património histórico-artístico e na consequente criação dos primeiros museus públicos de arte portugueses. Diversas medidas legislativas, a maioria inspirada no modelo francês, adequar-se-iam à realidade nacional, deparando-se, no entanto, com dificuldades de implementação advindas da volatilidade política que caracterizaria, particularmente, as décadas de 30 e 40 de oitocentos, até à denominada Regeneração. A Biblioteca Pública, o Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos e as Academias de Ciências e de Belas-Artes, sobretudo a de Lisboa, terão desempenhado um decisivo papel na salvaguarda e gestão de um vasto conjunto de obras de arte oriundas de conventos extintos, particularmente pinturas, que importa estudar, avaliando-se a importância atribuída ao património artístico móvel, numa altura em que alguns, de forma enérgica, defendiam a supremacia do património arquitectónico. Para além de pinturas, as antigas casas religiosas – muitas das quais reutilizadas ou vendidas – possuíam um conjunto muito diverso de património artístico e religioso que teve os mais diversos destinos, numa conjuntura, tantas vezes, política, social e financeiramente adversa. O gosto, as condições políticas, financeiras e logísticas, ditariam, inevitavelmente, as escolhas, o “viver” ou o “morrer” de muitas obras de arte.
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