Resumo: | A inovação institucional como carimbo da era digital, resultante da inclusão de atores não-governamentais em processos de formação e tomada de decisão e na definição de políticas públicas enquadradoras, inspira e ancora a investigação sobre o quem e o como a Internet é governada e o papel que organizações privadas - com vocação técnica, mas ambição global - desempenham na coordenação dos recursos críticos do ecossistema. Em cenário pós-vestefaliano, a governação sem governo convida o "velho" Estado-Nação, por uma vez desapropriado do monopólio da autoridade política, a reconfigurar-se. Aceite na Cimeira Mundial da Sociedade da Informação, o desafio ganha corpo no modelo "multistakeholder", cujos princípios, características e limites permaneceram, até hoje, foco de tensão e motivo de desvirtuamento. Colhidos no inquérito por questionário, ativado online durante 67 dias, junto de grupos fechados da rede social Facebook, os dados gerados por 120 casos indicaram o quanto o modelo, e o seu "modus operandi", pouco pareceram importar aos utilizadores, confortáveis como mostraram sentir-se com o desconhecimento do modelo e o seu não envolvimento e participação ativa nos mecanismos decisórios. Ainda que não-extrapoláveis, as perceções formadas em tão restrito segmento da comunidade nacional conectada, iluminaram o muito que há a fazer para revitalizar o modelo, num tempo em que os governos redirecionam para arenas menos inclusivas uma parte significativa das questões da governação da rede das redes, questionando de caminho a validade e legitimidade de uma fórmula que não confere, nem reconhece, a primazia aos interesses soberanos.
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