Summary: | Em Leceia, verificou-se uma rara reunião de circunstâncias favoráveis à plena valorização das evidências arqueológicas ainda conservadas no solo. Com efeito, foi possível efectuar, como em mais nenhum outro povoado estremenho, por circunstâncias que têm a ver com a época em que as escavações foram feitas e com os objectivos da investigação, à partida definidos, o estabelecimento de uma proposta coerente sobre a evolução do espaço edificado, articulando a estratigrafia e respectivo conteúdo artefactual – indispensável para o estabelecimento de uma sequência cultural específica – com a sucessão construtiva observada e, finalmente, com a cronologia absoluta relativa a cada uma das fases culturais assim definidas. Verificou-se estreita concordância entre os diversos indicadores arqueográficos utilizados para o estabelecimento da sequência cultural, e, destes, com a cronologia absoluta obtida para as correspondentes camadas estratigráficas claramente identificadas no conjunto da estação arqueológica. Estes elementos são condizentes e confirmam em absoluto as informações que já se dispunham sobre o faseamento do Calcolítico estremenho, tanto de carácter estratigráfico, como ao nível da sequência artefactual. Assim, no povoado pré-histórico da Rotura, a sequência identificada (FERREIRA & SILVA, 1970) indica que a ocupação se terá iniciado nos finais do Calcolítico Inicial ou, mais provavelmente, nos primórdios do Calcolítico Pleno, enquanto no Alto do Dafundo se encontra apenas presente o Calcolítico Inicial (GONÇALVES & SERRÃO, 1978) e no Penedo o Calcolítico Pleno e Final, com produções campaniformes (SPINDLER & TRINDADE, 1970). Tais produções foram encontradas em associação estratigráfica com os derradeiros fabricos pré-campaniformes em Leceia, e também na Rotura, a que se poderá juntar o povoado da Penha Verde, Sintra, entre outros. Neste último, as unidades habitacionais forneceram outra prova directa da validade do faseamento cultural proposto, com base na cerâmica, ao evidenciar a completa ausência de cerâmicas caneladas (copos e taças), sendo exclusivas as decorações do grupo “folha de acácia” e “crucíferas”, associadas a produções campaniformes, dominadas pelas produções geométricas a pontilhado, incluindo o estilo “marítimo” (ZBYSZEWSKI & FERREIRA, 1958), configurando um momento terminal do Calcolítico Pleno.
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