Resumo: | Na última década do século XVII e primeiras do XVIII assistiu-se a uma transformação nos repertórios e práticas musicais utilizados na Catedral de Évora, através da introdução gradual de obras musicais em estilo concertado, nomeadamente da autoria dos compositores que dirigiram as atividades musicais nesta instituição como é o caso de Diogo Dias Melgaz e o seu sucessor no cargo de mestre de capela, Pedro Vaz Rego. Simultaneamente, a gradual substituição do grupo instrumental associado à Catedral de um conjunto maioritariamente composto por instrumentos de sopro, cuja existência é conhecida na Catedral desde pelo menos as primeiras décadas do século XVI, para instrumentos de corda veio alterar significativamente a atividade nesta instituição em termos do seu repertório musical. Todavia, simultaneamente à atualização do repertório ao gosto da época, de influência italiana, mantém-se ainda um largo grupo de obras no chamado estilo antigo, decorrentes da tradição polifónica que marcou a atividade litúrgico-musical da Catedral nos séculos XVI e XVII. Tanto Melgaz como Rego escreveram música neste estilo já em desuso no início do século XVIII, juntamente com obras, que embora não sendo em estilo concertado, apontam já para a música que será escrita pelos seus sucessores ao longo do século XVIII, sobretudo obras vocais com acompanhamento instrumental de órgão e cordas. No caso de Melgaz, a sua produção musical sobrevivente é composta sobretudo por obras em estilo antigo com algumas em estilo policoral. A produção de Rego, pelo contrário, é composta largamente por obras corais com acompanhamento, encontrando-se reduzido número em estilo antigo. Desta forma, o presente estudo aborda a produção musical destes dois mestres enquanto compositores situados num momento de transição musical da Catedral de Évora que, embora autores de obras ditas modernas para época, continuaram a escrever segundo o estilo consagrado ao longo dos séculos precedentes.
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