Resumo: | Esta dissertação centra-se na inter-relação entre texto literário (João Miguel Fernandes Jorge) e fotografia (Jorge Molder) e pretende mostrar como a liminaridade das artes pode ser um factor determinante nesta que consideramos ser uma relação de contaminação e contiguidade. Há diversas possibilidades de análise deste cruzamento interartes, mas a que mais nos interessa relaciona-se com as formas de representação do corpo que, como veremos, deixa de ter como objectivo último a representação de um projecto de corpo uno para descobrir novas formas de representação plurais e descentradas. Trata-se, assim, de entender o texto literário e a fotografia como espaços de reconfiguração do corpo. Pelo uso da palavra reconfiguração procura evitar-se uma redução da literatura e da fotografia à representação, entendendo-as antes como modos de fazer e pensar (mostrar e figurar) a construção do corpo. Desta perspectiva, interessa-nos pensar de que forma configuração e representação se equacionam face à liminaridade das artes e como se escreve o corpo e se dá a ver, no texto e na fotografia. Corpo, fragmento e texto/fotografia: é uma dinâmica a quatro termos que aqui equacionaremos. Tirando partido reflexivo do que o pensamento filosófico e antropológico contemporâneo tem avançado sobre uma possível teoria do corpo pós-moderno, pretendemos analisar as obras de João Miguel Fernandes Jorge e Jorge Molder à luz daquilo que se tem designado como um corpo em crise. Defenderemos que estamos perante um novo conceito de corpo que se nos revela através da sua natureza fragmentária. Constitui, assim, nosso propósito analisar, por um lado, os efeitos de dispersão temática e formal em João Miguel Fernandes Jorge (no poema e livro) e em Jorge Molder (na fotografia e série) e, por outro, as várias estratégias de reconfiguração do corpo (corpo-testemunho e corpo-em-cena).
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