Summary: | Em 2015 comemora-se os 500 anos da chegada dos Portugueses a Timor. É o momento certo para debater publicamente a reforma da estratégia e da actuação da Cooperação Portuguesa (CP) em Timor-Leste, que, com raras excepções, se encontra em acelerada obsolescência. A CP resiste a actualizar-se e, sem saber o que não sabe, navega assim à deriva, incapaz, por isso, de capitalizar o que de bom foi feito e de corrigir os seus erros de trajectória. O documento estratégico da CP para Timor-Leste (o Plano Indicativo de Cooperação 2007-2010) caducou em 2010, como caducou, no essencial, a versão do país em que se baseou. Um contexto novo instalou-se em apenas cinco anos, mudando actores, prioridades e, até, amizades, assente numa plataforma de entendimentos de vária ordem e num muito maior peso de líderes profundamente locais, mas aptos a arrebanhar os 75% da população timorense que vive nas zonas rurais. Um contexto novo que é forçoso que Portugal conheça. Timor-Leste procura, agora, parcerias para implementar o seu Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) que ambiciona torná-lo num país de médios rendimentos já em 2030. Não procura nem “paternalismos” nem “assistencialismos”. Foi essa a base do acordo com o seu maior doador, a Austrália. O paradigma da CP deve ser renovado à luz do Timor-Leste de carne e osso, que entretanto surgiu, e de um Portugal acossado por uma crise profunda. O PND tem de ser parte central desse debate. Para tanto, Portugal tem de se actualizar e arrumar a casa. Depende disso uma relação mais sustentá- vel entre os dois países, que também assente numa maior reciprocidade e capacidade de resposta por parte de Timor-Leste – uma consequência da paridade exigida pelos timorenses mas que nem sempre é lembrada.
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