Resumo: | Este artigo pretende discutir o uso do tempo como acto de acção moral num contexto de crise social. A partir da análise de práticas de voluntariado e entreajuda (formal e informal) emergentes em Portugal, veremos como essas práticas assentam em racionais de dádiva e reciprocidade, e são complexos processos que congregam fatores pessoais e espirituais, afectivos, morais e utilitaristas. O atual contexto de crise em Portugal tem vindo a fomentar o crescimento acelerado de associações e de grupos de diferentes dimensões e enquadramentos, que de forma solidária oferecem tempo próprio para assegurar algumas necessidades básicas (sejam bens essenciais ou companhia) aos mais necessitados. Considerando que esses processos têm vindo a alterar profundamente a relação indivíduo-Estado, defendemos que é fundamental analisar as novas formas de dádiva na reprodução social nas economias capitalistas, e que a dádiva de tempo assume um papel central por se constituir como valor económico, moral e social.
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