Contactos culturais e discursos identitários na I Idade do Ferro (séculos VIII-V a.n.e.): leituras a partir do registo funerário

A I Idade do Ferro do Sul do actual território português constitui um momento de profunda transformação. A instalação da interface colonial e comercial fenícia e a reestruturação das redes sociopolíticas regionais que esta acarreta constituíram fenómenos históricos de amplo alcance, que estão na ori...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Gomes, Francisco João Bentes (author)
Formato: doctoralThesis
Idioma:por
Publicado em: 2016
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10451/25042
País:Portugal
Oai:oai:repositorio.ul.pt:10451/25042
Descrição
Resumo:A I Idade do Ferro do Sul do actual território português constitui um momento de profunda transformação. A instalação da interface colonial e comercial fenícia e a reestruturação das redes sociopolíticas regionais que esta acarreta constituíram fenómenos históricos de amplo alcance, que estão na origem de um processo de reconfiguração territorial, política, social e cultural que dará lugar, ao longo da primeira metade do I milénio a.n.e., à emergência de realidades muito diversificadas, que reflectem a multiplicidade de estratégias de adaptação das comunidades locais ao novo quadro geopolítico. O desenvolvimento da investigação tem permitido, com efeito, nos últimos anos entrever a existência de um complexo e multifacetado mosaico de situações enquadráveis no quadro históricocronológico genérico da I Idade do Ferro, evidenciando a necessidade de modelos explicativos que tenham em linha de conta essa diversidade de soluções territoriais, económicas, políticas, sociais e, em última análise, culturais, analisando as condições objectivas e as opções socioculturais que lhe estão subjacentes. O presente trabalho visa, justamente, analisar essa diversidade, apoiando-se para esse efeito num aspecto concreto do registo arqueológico – o das práticas funerárias – que se considera particularmente representativo das distintas estratégias de afirmação sociopolítica e identitária das comunidades autóctones da I Idade do Ferro do Sul do actual território português. Valorizam-se, em particular, os dados da importante necrópole do Olival do Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal, estudada monograficamente, pelo seu volume, pela sua qualidade e por oferecer um contraponto fundamental para a apreciação da documentação dos restantes conjuntos funerários analisados. Essa análise parte da hipótese de trabalho de que a nova situação geopolítica global resultante da chegada dos colonos e comerciantes fenícios e da profunda reestruturação das redes sociopolíticas regionais no final da Idade do Bronze implicou a construção de novos discursos identitários, destinados a situar e representar o papel de cada grupo no seio da nova tessitura histórica, e de que essa construção foi activamente operada pelas comunidades combinando, segundo lógicas específicas e diferenciadas, elementos “tradicionais” e outros de matriz forânea, oriental, manipulados como recursos discursivos. A apreciação dos dados da esfera funerária parecem, com efeito, permitir restituir a existência de discursos identitários e de representação sociopolítica diferenciados, evidenciando a existência de uma gradação de situações nas quais os elementos locais e os exógenos se combinam de formas muito distintas, reflexo da própria posição relativa de cada comunidade no processo histórico global. Procurou-se, portanto, e mesmo que de forma ainda muito condicionada, analisar a articulação desse contínuo de soluções culturais e identitárias, tentando estabelecer um primeiro quadro global de referência que permita, no futuro, e alargando a base documental empregue, analisar com maior detalhe as relações existentes entre as distintas comunidades sidéricas do Sul do território actualmente português, aferindo da geometria das redes sociopolíticas em que se inscrevem, dos seus equilíbrios e das suas assimetrias.