Summary: | O relato financeiro fraudulento tem vindo a aumentar, representando um elevado custo e resultando da falta de equilíbrio entre os objetivos divergentes dos gestores e dos stakeholders. A sua deteção pelo auditor nem sempre é fácil, o que agrava a diferença de expectativas entre os utilizadores e a auditoria. Neste contexto, este estudo visa desenvolver um modelo para determinar o que distingue o relato fraudulento do não fraudulento por forma a auxiliar o auditor na fase de planeamento da auditoria, reduzindo a probabilidade de falhar. Para o efeito, com base em informações dos relatórios de auditoria, artigos de jornais e acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo referentes ao período 2006-2012, construiu-se uma amostra de empresas portuguesas cujas demonstrações financeiras apresentam indícios de fraude e de empresas cujas demonstrações financeiras não apresentam indícios de fraude. Estas amostras foram divididas em subamostras por tipo de atividade: industrial, comercial e serviços. Desta forma, esta investigação pretende ser um contributo para os interessados na fiabilidade das demonstrações financeiras, tendo como suporte as três componentes do triângulo da fraude (incentivos, oportunidades e racionalização), as teorias de agência e dos stakeholders. Os resultados da aplicação das regressões logísticas mostram que as demonstrações financeiras com indícios de fraude, face às sem indícios de fraude, apresentam incentivos à fraude relacionado com necessidades de financiamento mais elevadas na amostra global, nas subamostras atividade indústria e atividade comercial. Obteve-se ainda evidência que uma das oportunidades para as demonstrações financeiras apresentarem indícios de fraude está relacionada com a ineficiência das operações traduzida por contas a receber mais elevadas face ao ativo, na amostra global e nas subamostras atividade industrial e atividade serviços. Os resultados indicam ainda que a existência de disposições ou vontades para de forma consciente e intencional cometer fraude (racionalização), está relacionada a uma maior rotatividade da gestão, na amostra global e nas subamostras atividade industrial e atividade serviços. Da conjugação dos vários resultados, pode-se concluir que nas empresas que apresentam demonstrações financeiras com indícios de fraude, o relato de rendibilidades mais reduzidas não provoca mudanças na gestão, mas o relato de contas a receber mais elevadas provoca mudanças na gestão, bem como a violação do dever de nomear auditor está negativamente relacionada com a dimensão das empresas relatada.
|