Desenvolvimento e avaliação de estratégias para aumentar a adesão à terapêutica farmacológica anti-hipertensora : estudo da intervenção do farmacêutico hospitalar no controlo da pressão arterial

Introdução: A hipertensão arterial (HTA) é uma doença com elevada prevalência na população adulta, constituindo um importante problema de saúde pública devido às complicações cardiovasculares graves que origina. Apesar do vasto leque de opções terapêuticas disponíveis com eficácia comprovada em ensa...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Morgado, Manuel Augusto Nunes Vicente Passos (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2013
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.6/983
Country:Portugal
Oai:oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/983
Description
Summary:Introdução: A hipertensão arterial (HTA) é uma doença com elevada prevalência na população adulta, constituindo um importante problema de saúde pública devido às complicações cardiovasculares graves que origina. Apesar do vasto leque de opções terapêuticas disponíveis com eficácia comprovada em ensaios clínicos controlados e aleatorizados, a proporção de hipertensos cuja tensão arterial (TA) se encontra controlada é, ainda, muito baixa, tornando primordial a criação de linhas de investigação e o desenvolvimento de estratégias de intervenção nesta área. Objectivos: Numa primeira fase, determinar a percentagem de doentes hipertensos, da zona de influência do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. (CHCB), com a TA controlada e estudar os factores preditores de TA não controlada. Numa segunda fase, desenvolver, implementar e avaliar uma intervenção farmacêutica hospitalar que permita aumentar o controlo eficaz da HTA. População e Métodos: Para o desenvolvimento da primeira parte do projecto, realizou-se um estudo observacional transversal em doentes adultos com diagnóstico de HTA que acorreram, de Julho a Setembro de 2009, à consulta de hipertensão / dislipidémia de do CHCB. Foi realizada uma entrevista estruturada tendo em vista a recolha de dados sobre: características sócio-demográficas, adesão à medicação anti-hipertensora, conhecimentos sobre a HTA e presença de reacções adversas medicamentosas (RAMs). Os dados antropométricos, fisiológicos e clínicos para a realização do estudo foram prospectivamente obtidos através dos processos clínicos. Para a definição de controlo da HTA, foram seguidos os critérios da Direcção-Geral da Saúde e do “Seventh report of the Joint National Committee on the Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure”(JNC 7). A determinação das variáveis independentes com influência significativa no controlo da TA foi efectuada por regressão logística. Para o desenvolvimento da segunda parte do projecto, realizou-se um ensaio clínico, controlado e aleatorizado tendo em vista o estudo do efeito da intervenção do farmacêutico hospitalar na adesão à terapêutica anti-hipertensora e no controlo da TA. Este ensaio decorreu de Julho de 2009 a Junho de 2010, tendo participado os mesmos doentes com diagnóstico de HTA que foram incluídos no estudo realizado na primeira fase do projecto. Resultados: Foram incluídos no estudo um total de 197 doentes hipertensos, os quais satisfizeram os critérios de inclusão e consentiram participar. Apenas 33,0% dos doentes tinham a TA controlada, sendo a taxa de adesão à terapêutica anti-hipertensora de 48,2%. A análise de regressão logística revelou a existência de três covariáveis com influência significativa no controlo da TA: adesão à medicação (OR = 4,8; IC 95%: 2,4-9,5; P < 0,001), estado marital (OR = 5,3; IC 95%: 1,7-16,4; P < 0,004) e diabetes (OR = 4,4; IC 95%: 1,4-13,5; P < 0,011). A mesma análise revelou, ainda, que as seguintes variáveis independentes influenciam significativamente a adesão à terapêutica: conhecimento dos valores alvo de TA (OR = 3,7; IC 95%: 1,9-7,4; P < 0,001), reacções adversas atribuídas à medicação antihipertensora (OR = 3,7; IC 95%: 1,6-8,3; P < 0,002), monitorização regular da TA (OR = 2,5; IC 95%: 1,2-5,2; P < 0,015), conhecimento da indicação dos medicamentos (OR = 2,4; IC 95%: 1,1-5,2; P < 0,021) e conhecimento dos riscos da HTA (OR = 2,1; IC 95%: 1,1-4,2; P < 0,026). Embora no início do ensaio clínico não existissem diferenças significativas em ambos os grupos do estudo (controlo e intervenção) no que respeita a todos os parâmetros relevantes analisados, no final da intervenção farmacêutica, a percentagem de doentes com a TA controlada era significativamente maior no grupo de intervenção (OR = 2,2; IC 95%: 1,3-4,0; P = 0,005). Foram, igualmente, observados, no final do estudo, valores significativamente mais baixos de TA sistólica (-6,8 mm Hg, P = 0,006) e de TA diastólica (-2,9 mm Hg, P = 0,020) no grupo de intervenção. No final do ensaio clínico observou-se, ainda, que a adesão à medicação era mais elevada no grupo de intervenção (74,5% vs 57,6%, P = 0,012). Conclusões: Uma percentagem significativa de doentes hipertensos a quem foram prescritos medicamentos anti-hipertensores não apresenta a TA controlada, sendo a taxa de adesão a estes medicamentos muito inferior à que seria desejável. A baixa adesão à terapêutica, o desconhecimento, por parte do doente, dos valores alvo de TA, dos riscos da HTA não controlada e das indicações dos medicamentos, bem como a ocorrência de RAMs e a falta de monitorização regular da TA devem ser estudados como possíveis causas de TA não controlada e devem ser considerados em qualquer intervenção que tenha como objectivo aumentar o controlo da TA. A intervenção farmacêutica pode modificar os factores que influenciam a adesão à terapêutica e aumentá-la significativamente, conduzindo, deste modo, a um aumento do controlo da TA em doentes tratados com anti-hipertensores. A inclusão do farmacêutico hospitalar na equipa multidisciplinar de saúde, responsável pelo tratamento dos doentes com HTA, constitui uma estratégia vantajosa para combater este importante problema de saúde pública.