Summary: | A escavação objecto desta publicação teve origem na necessidade de conhecer o efectivo interesse arqueológico de um local anteriormente assinalado na Carta Arqueológica do Concelho de Cascais que se pretendia ocupar por urbanização. Trata-se de uma vasta encosta voltada a nascente, situada na adjacência de um importante povoado de altura do Bronze Final, o Cabeço do Mouro. Com efeito, a prospecção de superfície evidenciou ali assinalável dispersão de cerâmicas da Idade do Bronze. Dada a natureza dos vestígios identificados, optou-se por proceder a investigação da área interessada em extensão, através da abertura de quadrados com 2 x 2 m, dispostos em xadrez, segundo uma linha orientada Norte-Sul. Tais quadrados foram sendo sucessivamente executados, para um e outro lado da referida linha, e também para norte e para sul, em função da natureza dos resultados que se iam obtendo, no decurso da escavação de cada um deles. No final dos trabalhos, encontravam-se executados 34 quadrados escavados até ao substrato geológico, correspondente a calcários margosos e apinhoados do Cenomaniano (Cretácico Médio), o qual se encontrava em geral a cerca de 0,40 m de profundidade. Deste modo, foi possível verificar que a forte dispersão de materiais observada à superfície se verificava também em profundidade — apesar de aqui os fragmentos serem de maiores dimensões — correspondendo a fenómeno pós-deposicional, devido à lavoura e à erosão, facilitada pelo pendor da encosta, não se tendo identificado estruturas ou camadas arqueológicas directamente relacionadas com os materiais exumados, aliás sempre em quantitativos baixos. Exceptua-se a identificação, no Q23, de uma estrutura negativa: trata-se de um silo escavado na rocha, reaproveitado ulteriormente como fossa de acumulação de detritos domésticos, colmatado certamente em curto intervalo de tempo. Ali foram recolhidos numerosos fragmentos de recipientes da Idade do Bronze, acompanhados de restos de talhe de sílex, fauna malacológica e de mamíferos domésticos; estes últimos permitiram a obtenção de datação de radiocarbono que situa a respectiva ocupação entre a segunda metade do século X e os finais do século IX a.C., para cerca de 95% de probabilidade. Trata-se, pois de momento correspondente ao fim do Bronze Final, coincidente com a chegada dos primeiros influxos orientalizantes,decorrentes da presença fenícia na região, ainda totalmente ausentes do registo arqueológico identificado. A ocorrência deste silo em área agrícola, sugere a existência de uma pequena unidade doméstica especializada na cerealicultura efectuada no próprio local, em estreita dependência do importante povoado de altura do Cabeço do Mouro, centro populacional que administraria a região envolvente, provavelmente até o litoral oceânico, situado a cerca de 4,5 km para sul, de onde provieram os moluscos identificados.
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