Summary: | O português oral de Luanda é uma subvariedade do português falado em Angola, resultante do contacto entre as línguas locais, com especial referência para o Kimbundu, e o Português Europeu. Este português caracteriza-se particularmente pela forte presença de traços dessas línguas africanas, em todos os domínios linguísticos, mas com destaque para os empréstimos lexicais. Esta tese, inserida na temática do contacto linguístico, constitui um estudo descritivo desse aspeto específico do português luandense. O objetivo fundamental é descrever, o mais rigorosamente possível, os processos morfológicos e fonológicos envolvidos na integração do material lexical banto em português, considerando também fatores extralinguísticos que entendemos determinantes para a compreensão global da questão. Considerando o empréstimo lexical como um processo comum à generalidade das línguas, no caso que nos ocupa procurámos mostrar que esses empréstimos foram integrados, adaptando-se às regras da língua-alvo. Figurando no seu inventário lexical, funcionam como elementos de expressão identitária local e como um contributo para a inovação e enriquecimento do léxico do português. Para realizar essa descrição, recorremos a um vasto conjunto de estudos realizados sob diversos enquadramentos teóricos, para um conhecimento aprofundado do estado da arte, dos quais aproveitámos os contributos que nos permitiram compreender mais aprofundadamente os factos em análise. Sem estar vinculado e limitado a uma única abordagem teórica, o tratamento dos aspetos linguísticos é, contudo, fortemente inspirado nas abordagens de matriz generativista da morfologia e da fonologia. Quanto às questões sociolinguísticas, apoiámo-nos em diversos contributos no âmbito da disciplina da Sociolinguística, graças à vasta literatura especializada consultada, em particular sobre os resultados possíveis do contacto linguístico. Um contributo metodologicamente muito importante para a realização deste trabalho consiste no corpus oral que reunimos, constituído por 36 entrevistas feitas em Luanda, no qual identificámos 255 empréstimos lexicais. É este o material empírico que suporta, ao longo de várias secções, a abordagem dos factos linguísticos identificados, numa perspetiva de análise combinada, qualitativa-quantitativa.
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