Summary: | É frequente a ideia de que os espaços públicos das cidades de Le Corbusier preconizaram uma ruptura em relação à História. É comum pensar-se que estes espaços em nada se assemelhavam aos espaços públicos que, ao longo dos tempos e até então, se tinham realizado. Esta convicção é alimentada quer pela evidência ofuscante do seu carácter inovador, quer pela interpretação deficiente dalgumas observações do próprio autor – proliferando nas suas obras literárias palavras de ordem que turvam qualquer evocação do passado, como civilisation machiniste, l’esprit nouveau, l’architecture de demain. No entanto, desembaraçando-nos de um enredado de ideias preconcebidas, sobre as quais se construiu uma ideia pouco objectiva de modernidade, e a partir de uma análise cuidada da génese de dois espaços públicos corbusianos exemplares do período imediatamente subsequente à Segunda Guerra Mundial, torna-se evidente que os lugares da vida pública de Le Corbusier não só não estabelecem uma cisão com o passado histórico, como constituem, eles próprios, os testemunhos da inabalável continuidade da criação humana ao longo dos tempos. Demonstrá-lo, é o objectivo deste artigo.
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