Resumo: | A nanotecnologia é uma área em constante crescimento, com cada vez mais produtos contendo nanopartículas (NPs) a serem introduzidos no mercado e no nosso dia-a-dia, desde cosméticos a baterias e dispositivos médicos. As características das NPs (composição química, tamanho, forma, reatividade) prometem novas aplicações e tornam estes materiais altamente desejáveis. Devido ao aumento de produção, as NPs irão eventualmente chegar ao meio ambiente de forma direta ou indireta, onde podem causar efeitos negativos nos diferentes compartimentos dos ecossistemas (solo, ar, água). Apesar de haver estudos ecotoxicológicos que se focam em nanomateriais, diferentes resultados (e por vezes contraditórios) podem ser encontrados mesmo para NPs com a mesma composição química, o que se pode dever a influência de fatores bióticos e abióticos que podem alterar a biodisponibilidade e portanto a toxicidade desses materiais. NPs metálicas, como o níquel (Ni) são atualmente utilizadas em diversas aplicações, no entanto os efeitos das nanopartículas de níquel (NiNPs) em organismos de solo ainda são pouco conhecidos. No presente estudo, a toxicidade de NiNPs (em comparação com NiNO3) para o organismo modelo de solo Enchytraeus crypticus (Oligochaeta) foi investigada com base no teste padrão Teste de Reprodução em Enquitreídeos (em inglês Enchytraeid Reprodução test - ERT) e no recentemente desenvolvido teste de ciclo de vida completo (FLC), que adiciona ao teste padrão, parâmetros como a eclosão, o crescimento e o tempo para atingir a maturidade. No geral, NiNO3 foi mais tóxico para o E. crypticus do que as NiNPs e a toxicidade parece ocorrer através de mecanismos diferenciados. Na exposição a NiNO3, os efeitos foram visíveis na redução do número de juvenis eclodidos ao nível da eclosão e mantiveram-se ao longo de todos os parâmetros avaliados no ciclo de vida (crescimento, estado de maturação, sobrevivência e reprodução). Relativamente à exposição a NiNPs, a eclosão foi o parâmetro mais sensível (CE10 = 47 mg NiNPs/kg), mas os organismos sobreviveram e reproduziram-se a concentrações até 1800 mg NiNPs/kg, mostrando que o efeito observado na eclosão foi um atraso. Exposição a 100 mg Ni/kg causou efeitos similares a concentrações mais altas (1000 e 1800 mg NiNPs/kg) indicando um maior efeito associado ao tamanho nano. Os atuais resultados realçam a potencial falta de uma dose-resposta monótona (com base na massa) para a avaliação de perigo de NPs e consequentemente a exigência da revisão dos procedimentos para a avaliação de risco.
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