Luto e comportamentos suicidários nos idosos da Cova da Beira

O suicídio é um ato que gera repercussões importantes em todos os contextos, desde o familiar até ao amplo contexto social, incluindo os profissionais de saúde. O suicídio retrata uma situação na qual, o sujeito decide acabar com a própria vida, tentando assim, livrar-se de uma situação de dor psíqu...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Batista, Patrícia (author)
Format: masterThesis
Language:por
Published: 2013
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.6/1184
Country:Portugal
Oai:oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/1184
Description
Summary:O suicídio é um ato que gera repercussões importantes em todos os contextos, desde o familiar até ao amplo contexto social, incluindo os profissionais de saúde. O suicídio retrata uma situação na qual, o sujeito decide acabar com a própria vida, tentando assim, livrar-se de uma situação de dor psíquica insuportável. Por cada suicídio consumado estima-se que haja cerca de 20 a 30 comportamentos suicidários, em que só um quarto tem contacto com os serviços de saúde (Kaplan, Adanek, Martin, 2001). De acordo com alguns estudos, estima-se que o número de suicídios, bem como os comportamentos suicidários e o seu impacto na sociedade têm vindo a aumentar ao longo do tempo. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001) estima que em 2020, aproximadamente 1,53 milhões de pessoas morrerão por suicídio no mundo. O suicídio é, atualmente, uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 aos 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas com mais de 60 anos. Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. O que se observa é que, com o aumento da idade, aumenta também o risco depressivo e a tendência para o suicídio. São muitos os fatores que podem justificar este padrão de suicidalidade. Do ponto de vista clínico, a doença psiquiátrica, o alcoolismo, a doença física, a doença terminal e, o próprio medo das doenças, constituem nas camadas mais envelhecidas, fatores de risco que podem conduzir ao suicídio. Por sua vez, do ponto de vista social, o isolamento, o sentimento de solidão, os problemas interpessoais, os próprios eventos de vida, amplificados com a desvalorização social do idoso e outras discriminações, condicionam também a suicidalidade nos idosos. Cada suicídio provoca uma devastação emocional e social entre familiares e amigos (sobreviventes), causando um impacto que pode perdurar por muitos anos, podendo causar repercussões a diversos níveis. O objetivo geral do presente trabalho de investigação é conhecer as vivências sentidas pelos familiares no processo de luto dos idosos que se suicidaram. Utiliza-se, como instrumento de colheita de dados, uma entrevista semi-estruturada onde carateriza-se a amostra e, utilizam-se como instrumentos de investigação de suporte ao estudo, o Inventário de Luto Complicado de Prigerson et al. (1995) traduzido por Frade (2010), a Escala de Depressão Geriátrica, GDS-30 de Yesavage et al. (1983) traduzida por Barreto et al. (2008), a Escala de Satisfação Social de Ribeiro (1999) e a Escala de Apgar Familiar de Smilkstein (1978) versão portuguesa de Agostinho & Rebelo (1988). A amostra é constituída pelos familiares de idosos que tenham cometido o suicídio e, que residam nos concelhos da Cova da Beira, no período compreendido entre 2005 a 2011. A constituição da amostra foi obtida através da referenciação dos casos notificados pela comunicação social, Presidentes de Juntas de Freguesias, párocos ou outras fontes públicas, assim como, dados cedidos pelo Comando Territorial de Castelo Branco (polícia). A amostra constituída tem um total de 17 familiares/sobreviventes em que a idade varia dos [35 aos 72 anos], maioritariamente idosos (10), cuja idade média é de 59 anos. É uma amostra com predominância do género feminino (12) e do estado civil viúvo (8). Dos familiares viúvos, vivem 6 sozinhos, tendo ajuda do(s) filho(s) que, na maioria dos casos vive distante, noutro distrito ou mesmo país. Ainda dos familiares viúvos (8), 7 são mulheres, ou seja, esposas do suicida. Observa-se também na amostra que, os familiares são predominantes do meio rural (11), com hábitos religiosos (15), cujo nível de escolaridade é o ensino primário (6) e referem a presença de doenças crónicas (10), nomeadamente, a depressão, os problemas osteoarticulares e cardíacos. O método mais utilizado pelo suicida foi o enforcamento, ocorrendo em 12 casos, dos quais 5 ocorreram em casa, e 7 fora de casa, numa distância próxima (jardim, palheiro). O ano com mais casos notificados foi 2010, com 5 casos, seguidamente de 2005 com 4 casos, 2009 e 2011 com 3 casos, respetivamente, e 2006 e 2007 com 1 caso notificado, respetivamente. As vivências mais manifestadas pelos familiares enlutados em relação ao suicídio foram a saudade (17), a tristeza (15), o choque (14), o abandono (13), o desamparo (11), a solidão (10), a revolta (7), a incredibilidade (6), a angústia (12), o evitamento (9), a aceitação (5) e a ansiedade (4). No que diz respeito ao luto complicado, verificou-se em 12 familiares, e em relação à depressão geriátrica verificaram-se 3 casos de depressão grave e 3 casos de depressão ligeira. Em termos da funcionalidade familiar (Escala de Apgar), os resultados traduzem uma amostra em que a relação familiar é altamente funcional, presente em 9 casos, que vai de encontro aos resultados obtidos pela escala de Satisfação do Suporte Social, cuja amostra apresenta resultados que traduzem uma perceção de maior suporte social. A amostra em estudo revelou ter alguns fatores de risco, nomeadamente isolamento, solidão, angústia a noção de abandono. Além disso apresentou níveis elevados de luto complicado e depressão. Revelou também a importância dos laços, da estrutura e do suporte social e familiar nas famílias enlutas. Urge compreender como as pessoas lidam com o problema do suicídio e, surge então, a importância do conceito pósvenção (postvention). É fundamental ter conhecimento destas alterações profundas para que se atenue o impacto negativo das mesmas e se potencie o seu impacto positivo num futuro próximo. Este é potenciado através da elaboração de plataformas de intervenção que reforcem os fatores protetores e minimizem os fatores de risco.