Resumo: | A 25 de Abril de 1974, Portugal despertava com um golpe militar, depois de um longo período de regime ditatorial, iniciado a 28 de Maio de 1926 e fossilizado sob a forma do Estado Novo. Os militares revoltosos decidiram tomar o poder com vista à mudança do paradigma governativo vigente, que persistia no arrastamento de uma guerra no Ultramar dividida em três frente distintas – Guiné, Angola e Moçambique – e sem fim aparente. Com efeito, a ruptura que se verificou em Portugal proporcionou o começo da etapa final do processo de Descolonização, que conhecera o seu princípio, em 1961, com o despontar das lutas nacionalistas armadas nas colónias portuguesas. A transferência de poderes e de soberania, nas colónias, para os movimentos nacionalistas foi um desígnio assumido pela elite governativa que se estabeleceu após o 25 de Abril de 1974, dando origem ao processo mais marcante da história contemporânea portuguesa, que culminou no fim do domínio português sobre vastos territórios africanos. O presente trabalho é fruto de uma investigação que procurou averiguar como se desenvolveu, numa dessas colónias – a Guiné -, um núcleo de militares contestatários e, posteriormente, conspirativos, cuja acção viria a derrubar governo, e a forma como, consumado esse derrube, foi conduzido o respectivo processo de transferência de poder para uma entidade política previamente existente e internacionalmente reconhecida – a República da Guiné-Bissau. Assim, ficou claro quando é que o processo conspirativo se iniciou na Guiné, que os processos negociais se deram à escala local entre militares do MFA e do movimento nacionalista PAIGC, que originaram um processo de retirada das forças portuguesas bastante célere, sem interferências do poder político português e que, como consequências mais visíveis, acabaram por impedir a pluralidade partidária na Guiné-Bissau e não salvaguardaram muitos dos que, combatendo por Portugal, permaneceram aquele território.
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