Resumo: | De acordo com o académico britânico John Street, “é sem surpresa que, quando ocorre um golpe de estado, os rebeldes se dirigem primeiro para as estações de rádio e televisão, para assegurar a sua vitória. É também óbvio que um dispositivo para a subsequente manutenção do controlo é a gestão estrita do fluxo de informação” (Street, 2001: 6-7). Apesar das suas especificidades, o 25 de Abril de 1974 não escapa a esta regra. Desencadeadas através de duas senhas radiofónicas, as operações militares iniciam-se com a tomada do Rádio Clube Português (RCP), Emissora Nacional (EN) e Radiotelevisão Portuguesa (RTP). Conscientes da sua importância estratégica, os capitães de Abril colocam os meios de comunicação social entre os pontos vitais a tomar no início das operações de derrube doa ditadura. Alcançado esse objectivo, o Programa do MFA consignava a liberdade de expressão e a promulgação de uma nova Lei de Imprensa. No entanto, a gestão e o controlo dos órgãos de comunicação social rapidamente se transformam numa prioridade, num país que se agita sob um processo revolucionário que transcende qualquer previsão ou projecto idealizado pelos Capitães. Tal como acontece noutros domínios da vida nacional, a Revolução de Abril marcou um ponto de viragem no jornalismo e nos media. Acentuando a importância do fim da censura e da restauração das liberdades, a tónica dominante das obras publicadas sobre o período incide na ideia da “saturação ideológica” e da “impossível neutralidade jornalística” dos órgãos de comunicação social. Alvo de variadas tentativas de controlo por parte de diferentes forças políticas e palco de violentas lutas que contribuíram para o agravamento da tensão política desses momentos, os meios de comunicação foram actores políticos e uma peça central do processo revolucionário. Em causa esteve não apenas a luta pela liberdade de expressão e de imprensa como também pela definição do modelo político a implementar (Mesquita, 1994; Figueira, 2007). Com este artigo propomo-nos contribuir para um aprofundamento do conhecimento do período através de uma análise das mudanças ocorridas na Emissora Nacional nos anos de 1974-1975.
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