Escadarias de aparato na Corte de Lisboa no século XVIII: manifestações de poder e riqueza no Antigo Regime. O caso do Real Edifício de Mafra

A escadaria de aparato é uma estrutura arquitetónica que, além de fazer a ligação entre pisos num edifício, tem uma dimensão simbólica e de representação do seu proprietário, instituição ou funcionalidade. O seu aparecimento ocorreu no último quartel do século XV em Castela, quando se operaram duas...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Simões, João Miguel Ferreira Antunes (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2022
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10451/55011
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ul.pt:10451/55011
Description
Summary:A escadaria de aparato é uma estrutura arquitetónica que, além de fazer a ligação entre pisos num edifício, tem uma dimensão simbólica e de representação do seu proprietário, instituição ou funcionalidade. O seu aparecimento ocorreu no último quartel do século XV em Castela, quando se operaram duas mudanças culturais importantes. Por um lado, com a Devotio Moderna surgem novos equipamentos tal como hospitais, colégios e universidades, que implicavam uma constante movimentação entre pisos por parte dos seus muitos utilizadores. Por outro, com a conclusão da Reconquista, a pequena nobreza de cavaleiros perdeu importância política e social e reagiu reafirmando o seu estatuto através de escadarias de aparato construídas nos seus palácios. Esta vocação de afirmação ideológica da escadaria de aparato foi adotada pela Coroa Hispânica, nos seus palácios construídos em Castela, nomeadamente em Madrid, Toledo e por fim no Escorial. A escadaria de aparato torna-se num meio de afirmação política e económica de um Estado. Com este entendimento, as escadarias de aparato foram adotadas pelas famílias de banqueiros de Génova, precisamente os principais credores de Filipe II. Também foi adotado pelos principais estados da Europa, principalmente por aqueles que se pretendiam afirmar no plano europeu: pelos reis na França feudal, pela contestada Santa Sé, pela empobrecida Veneza, pelas novas monarquias que se pretendiam legitimar (Bourbon de Espanha e Nápoles), pelas novas famílias dinásticas emergentes (Saboias na Itália), e pelos pequenos estados no muito fragmentado e instável mosaico alemão. Em Portugal, a escadaria de aparato era conhecida, estando presentes os modelos europeus. Muitos edifícios lisboetas sofreram profundas alterações para receber novas escadarias de aparato. A dimensão de afirmação política da escadaria de aparato é, porém, assumida com D. João V no Real Edifício de Mafra. Este enorme complexo arquitetónico, construído entre 1729 e 1755, possui várias escadarias que, em conjugação com a análise das salas do seu interior, denunciam o seu real propósito nunca assumido, nunca concretizado e deliberadamente encobrido: um complexo político, administrativo e burocrático que agilizasse a administração régia e eclesiástica, convertendo Portugal numa potência universal, assente na boa administração, na riqueza do ouro do Brasil, na sua efetiva implantação pluricontinental e na interdependência económica, cultural, política e religiosa dos seus numerosos, variados e dispersos domínios. Apesar de não concretizado, este edifício, através do seu gabinete técnico, impulsionou a construção de outros que lhe são anexos, subsequentes ou mesmo oposicionistas.