Resumo: | O estudo do teatro de marionetas antigas de tradição popular, menor entre todas as formas de teatro, pertenceu durante décadas ao domínio do antropólogo ou do historiador teatral, e ocasionalmente, dos coleccionadores e museólogos, numa busca, difícil mas persistente, das suas origens, da sua história, da sua autenticidade. Este olhar sobre a marioneta tem prevalecido, muitas vezes em prejuízo do interesse do seu valor teatral, artístico e cultural. Hoje, a conservação e transmissão da marioneta antiga para o público actual encontrou um novo quadro de recepção, aberto às problemáticas patrimoniais, de requalificação de formas situadas nas margens ou até fora da cultura erudita. Propomos nesta comunicação abordar a partitura sonora do teatro de marionetas a partir de um estudo de caso, com incidência nas marionetas tradicionais que integram a vida teatral contemporânea portuguesa. Procuraremos descrever a dimensão dramatúrgica da utilização da música que integra os espectáculos, e das vozes que os manipuladores, nas suas falas, emprestam aos objectos-marionetas. Sublinharemos também a abundância de sons que, com as vozes distorcidas dos personagens e a proliferação de ruídos – gritos, pancadas, batimentos –, são constitutivos do espectáculo e definem o ritmo na performance.
|