Summary: | A reconciliação da medicação é um processo sistemático e contínuo que visa promover a segurança do doente e aumentar a qualidade de vida deste através da redução de erros de medicação e eventos adversos. O objetivo deste estudo consistiu na realização da reconciliação da medicação no pós-operatório da cirurgia ortopédica, determinando quais as classes de fármacos envolvidas nas discrepâncias e identificando as discrepâncias preponderantes. Este estudo foi conduzido no serviço de ortopedia do Centro Hospitalar Médio Tejo – Unidade de Abrantes, entre 3 de abril e 20 de maio de 2011. As listas de medicação domiciliares foram obtidas através da aplicação de inquéritos aos doentes e da consulta dos registos de enfermagem. A medicação prescrita foi obtida a partir dos processos clínicos dos doentes. As listas foram comparadas. Identificaram-se as discrepâncias (qualquer variação não intencional entre os medicamentos utilizados antes da admissão e os medicamentos prescritos após a intervenção cirúrgica) e discriminaram-se os fármacos. O processamento dos dados foi realizado utilizando estatística descritiva (frequências, percentagens, médias, desvios padrão) e estatística indutiva (qui-quadrado, odds ratio). Dos 36 doentes (média de idade 74 anos, 30 mulheres e 6 homens) incluídos no estudo, 23 (64,0%) apresentaram ≥1 discrepâncias. A medicação cardiovascular foi a que registou maior envolvimento nas discrepâncias (32,6%) seguida dos medicamentos que atuam no sistema nervoso central (30,2%). Dos fármacos envolvidos nas discrepâncias, 14,0% foram considerados medicação de alto risco. As discrepâncias mais frequentes foram a omissão (50,0%) e a interação com potencial para causar dano ao doente (19,4%). Verificou-se, neste estudo, a existência de uma correlação entre o número de medicamentos domiciliares e o número de discrepâncias identificadas (OR=8,5; IC95%, 1,84-39,23). O processo da reconciliação da medicação mostrou ter um grande potencial para identificar discrepâncias de medicação no pós-operatório de doentes hospitalizados, o que evidencia a importância e necessidade de criação e implementação deste processo.
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