Summary: | A cidade é um organismo vivo cuja morfologia está sujeita a contantes transformações que visam dar resposta às necessidades dos seus habitantes. Só o olhar da História e da História da Arte podem recriar o transformado; ler os estratos do palimpsesto; e devolver à memória urbana a origem matricial dos edifícios, praças, bairros, ruas e arruamentos que dão vida à cidade de hoje. Referenciada desde 1155, a igreja românica de Santa Justa de Coimbra funcionou no arrabalde Norte dessa cidade até 1710. Longe do núcleo amuralhado, implantado numa região arenosa próxima da margem do rio, este edifício enfrentou cheias sazonais e os efeitos do assoreamento e do alteamento das margens. Da igreja e respetivo adro, restam parte da estrutura (um edifício entretanto secularizado e degradado) e um terreiro (conhecido por Terreiro da Erva). Este complexo urbano está atualmente implantado numa superfície muito superior à medieval e as escavações arqueológicas têm sido infrutíferas, dada a elevada cota do lençol freático. Só a articulação exaustiva da informação proveniente das fontes escritas permitirá interpretar a história deste espaço urbano de leitura tão difícil. Neste estudo, pretende-se apresentar uma proposta da estrutura da igreja românica e do seu adro, bem como das transformações físicas até ao século XVI. Esse esboço resultará da análise das informações sobre o espaço, contidas na documentação medieval. Para tal, serão examinados, entre outros documentos, aqueles que fazem referência aos túmulos, altares e capelas, bem como os registos de visitações episcopais e o regimento da igreja. Com base em premissas metodológicas delineadas na obra A Cripto-História da Arte (2001), considera-se possível caracterizar a estrutura românica desaparecida. Finalmente, essa caracterização, contextualizada pelo conhecimento que temos das dinâmicas urbanas desta paróquia medieval, permitirá apresentar uma proposta de legenda para o atual espaço da cidade.
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