Summary: | Atualmente, são inúmeros os exemplos de espaços industriais obsoletos, votados ao abandono e em ruínas. Obras notáveis do Movimento Moderno português, que fazem parte da memória coletiva das comunidades, mas que estão em vias de desaparecer. Tomando como referência a Panificadora de Vila Real Lda., procurámos – não sem antes contextualizar este paradigma industrial moderno – consciencializar a sociedade e as entidades competentes para o valor intrínseco deste imóvel assim como o de outros exemplos semelhantes. Através de um projeto de reconversão, abordagem escolhida para reintegrar a antiga panificadora na vida contemporânea, foi nossa ambição despertar consciências e investidores para este tipo de estruturas e de operações. Começámos, assim, por referir as obras mais significativas da arquitetura industrial portuguesa, contextualizando-as nos diferentes cenários político-culturais que compuseram a moldura da arquitetura moderna no nosso país, durante sensivelmente cinco décadas. Desta forma, traçou-se um percurso desde a primeira geração modernista até aos anos 60, quando a ânsia do “projeto moderno” começara a esmorecer, levando então, na década seguinte, ao início de um processo de desindustrialização que acabaria por condenar à obsolescência inúmeros e indefetíveis exemplares da arquitetura industrial moderna. Revisitámos, depois, a vida e obra do seu autor – Nadir Afonso –, um arquiteto com alma de pintor, dotado de uma sensibilidade e perícia notáveis na manipulação das proporções e das relações geométricas. Da sua passagem pela arquitetura, sobressai um riquíssimo percurso pelo estrangeiro, onde colaborou com dois dos mais influentes mestres do Estilo Internacional – Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Posteriormente, abordámos algumas questões relativas à salvaguarda da arquitetura industrial moderna, sensibilizando o leitor sobre a génese de conceitos como arqueologia industrial e património industrial. Foram, ainda, apresentadas diferentes formas de intervenção arquitetónica sobre estruturas industriais obsoletas, tendo em conta os riscos que cada uma dessas abordagens acarreta. Concluímos então este trabalho com a apresentação do projeto de reconversão da antiga panificadora. A intervenção reinterpreta a antiga panificadora como um espaço de produção não de pão, mas de arte, preservando-se assim a sua essência utilitária. Assumiu-se a contemporaneidade, sem desrespeitar ou colocar em causa a identidade e o valor histórico da antiga unidade industrial de panificação
|