Summary: | O artigo tenta investigar a abordagem à utopia de Ernst Bloch, focando-se em particular no Espírito da utopia. A partir da interpretação de Miguel Abensour da utopia como forma de “conversão”, e através das reflexões de Pierre Hadot sobre a história da conversão como fenómeno espiritual que interseta quer a filosofia quer a religião, o artigo estuda a modalidade com que uma conversão utópica se define em Bloch. A consequência desta reflexão consiste na possibilidade de abordar a própria filosofia de Bloch, tal como a tradição utópica no seu todo, dentro do horizonte da filosofia como maneira de viver, conforme a abordagem de Hadot: uma modalidade filosófica esta, característica da Antiguidade, mas também presente na modernidade, caracterizada por técnicas e práticas de escrita que visam, mais do que a uma compreensão teórica dos fenómenos, a uma transformação das práticas de vida. Recuperando esta modalidade filosófica, Bloch abre o caminho para uma espiritualidade política na qual se enraíza, por fim, a potência transformativa da própria utopia.
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