Summary: | Formalmente instituída no segundo quartel de Quatrocentos, a Casa de Vila Real foi uma das mais importantes casas senhoriais da nobreza titulada do Reino de Portugal, entre os meados dos séculos XV e XVII, até 1641, quando os seus representantes foram judicialmente sentenciados, por alegada conspiração e delito de lesa-majestade. Favorecidos por uma ascendência familiar que remontava em caudilhos militares com laços de serviço aos primeiros reis da dinastia de Avis e em filhos bastardos de reis de Portugal e de Castela, os primeiros titulares da Casa de Vila Real ocuparam um lugar sociopolítico cimeiro no quadro da principal nobreza do Reino, através do qual puderam realizar um conjunto de vários serviços, especialmente, o exercício do ofício de capitães e governadores da cidade de Ceuta. O sucesso dos serviços militares e a proximidade de parentesco com a Casa Real foram os factores decisivos para a projecção sociopolítica e para o acrescentamento de património senhorial que a Casa de Vila Real alcançou entre os meados dos séculos XV e XVI. Entre os anos 1445 e 1543, os primeiros três marqueses – D. Pedro de Meneses, D. Fernando de Meneses e D. Pedro de Meneses – acumularam para a Casa de Vila Real um grande conjunto de doações e mercês régias, pelas quais obtiveram vários senhorios de terras, jurisdições, rendas, direitos e privilégios exclusivos, incluindo a concessão de títulos nobiliárquicos e de ofícios de natureza militar, tudo em recompensa dos serviços prestados aos diferentes monarcas que reinaram naquele período. Analisando um conjunto comum de dados, tendentes ao esboço dos percursos de vida daqueles três senhores (nascimento e morte; casamentos e descendências; alianças sociais e laços de parentesco; desempenho de ofícios e honras nobiliárquicas; fontes de riqueza e situação económica herdada; posição hierárquica e rivalidades sociopolíticas; itinerários e lugares de residência; símbolos de poder e de representação social; e sinais de educação cultural, de comportamento e de religiosidade), pretende-se compreender a evolução da Casa de Vila Real, nos meados dos séculos XV e XVI. Recorrendo ao método biográfico, aplicado aos primeiros três marqueses de Vila Real, senhores que foram simultaneamente os representantes e a personificação da sua casa senhorial, pretende-se dar mais um contributo para o conhecimento das realidades sociais, políticas e comportamentais relativas à aristocracia laica portuguesa do período tardo-medievo.
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