Summary: | Com o objectivo de estudar o efeito das raízes na distribuição de mercúrio em sedimentos de sapais, foram recolhidos cores de sedimentos, com 60 cm de profundidade, em dois sapais da Ria de Aveiro com diferentes graus de contaminação. Os cores foram recolhidos em áreas não colonizadas e em áreas colonizadas pelo Halimione portulacoides e pelo Arthrocnemum fruticosum. Os cores foram seccionados em camadas de 5 cm de espessura e as raízes de cada camada foram separadas dos sedimentos. Para além dos sedimentos, foram também recolhidas folhas e caules das plantas colonizadoras nos dois sapais. Em cada camada de sedimento procedeu-se à determinação da temperatura, pH, matéria orgânica (LOI e Carbono orgânico), humidade, granulometria, biomassa subterrânea, alumínio, ferro e manganês (total e extraído com uma solução de hidroxilamina). As águas intersticiais foram extraídas de cada camada de sedimentos e procedeu-se à determinação de carbono orgânico dissolvido, ferro e manganês, nas mesmas. O mercúrio total foi analisado na fracção sólida do sedimentos e na biomassa subterrânea; nas águas intersticiais foi determinado mercúrio total e reactivo. Na biomassa subterrânea procedeu-se ainda à determinação de ferro e manganês totais. Todas as determinações químicas efectuadas nos sedimentos e nas águas intersticiais dos sedimentos colonizados do sapal contaminado, evidenciam um padrão de distribuição vertical semelhante, caracterizado pela existência de um incremento nas camadas sub-superficiais que contêm maior biomassa subterrânea (entre 10-25 cm de profundidade). Estes perfis contrastam com a uniformidade observada nos perfis verticais dos cores de sedimentos não colonizados. As concentrações máximas de ferro extraído indicam a existência de um zona com natureza óxica favorecendo a precipitação de óxidos e hidróxidos de ferro nas camadas de sedimentos sub-superficiais. As concentrações de mercúrio na fracção sólida e nas águas intersticiais apresentam também incrementos nessas mesmas camadas (max. 39,3 ?g g-1 e 29,3 ng L-1, respectivamente). Estas camadas por sua vez, são enriquecidas em carbono orgânico dissolvido e particulado. As concentrações máximas de mercúrio e ferro ocorrem acima das camadas de sedimentos com maior quantidade de biomassa subterrânea. As concentrações de mercúrio na biomassa subterrânea ocorreram nas mesmas camadas dos sedimentos (max. 120 ? g g-1 para o Halimione portulacoides e 49 ?g g-1 para o Arthrocnemum fruticosum) As concentrações de mercúrio nos sedimentos do sapal menos contaminado, apresentam um perfil semelhante, no entanto as concentrações de mercúrio são mais baixas (max. 1,7 ?g g-1). A biomassa subterrânea nestas camadas apresenta também maiores concentrações de mercúrio (3,2 ?g g-1 para o Halimione portulacoides e 1,5 ? g g-1para o Arthrocnemum fruticosum). Os resultados obtidos apontam para uma intensa mobilização do mercúrio em sedimentos colonizados. O mercúrio é transportado para a zona dos sedimentos com raízes à medida que a planta toma água e é incorporado em óxidos e hidróxidos de ferro formados na rizosfera. Os perfis paralelos de mercúrio dissolvido e carbono orgânico dissolvido observados nas águas intersticiais sugerem um mecanismo de competição entre o carbono orgânico dissolvido e os óxidos e hidróxidos de ferro para a retenção de mercúrio em sedimentos de sapais colonizados. As baixas concentrações de mercúrio registadas na biomassa aérea apontam para o facto da mobilização do mercúrio se processar fundamentalmente entre os sedimentos e as raízes, sendo apenas uma pequena fracção do metal translocada para os órgãos superiores das plantas.
|