Summary: | O adenoma hepatocelular é um tumor hepático benigno raro que afeta principalmente mulheres em idade fértil. É, frequentemente, um achado incidental. Tipicamente associado ao uso prolongado da contraceção hormonal combinada, tem-se verificado cada vez mais a sua associação com outros fatores de risco, como a obesidade. As principais complicações do adenoma hepático são a hemorragia e a transformação maligna para carcinoma hepatocelular. O seu crescimento é sobretudo influenciado hormonalmente. Deste modo, o período da gravidez mostra-se especialmente propenso ao crescimento e rotura do adenoma, com potencial de complicações para a mãe e para o feto. É apresentado um caso clínico de rotura espontânea de adenoma hepatocelular numa mulher grávida de 38 semanas. Esta gravidez resultou de procedimentos de procriação medicamente assistida. Na sequência de uma ida à Urgência, no Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, por dor epigástrica intensa de surgimento súbito, que evoluiu para um quadro de síndrome de sofrimento fetal, realizou-se cesariana emergente. Durante a cesariana, verifica-se presença de hemoperitoneu e é detetada uma formação nodular hepática com aproximadamente 10 cm no lobo direito do fígado. Após a cesariana é realizada Tomografia Computadorizada Abdominal que confirma a presença de massa hepática no lobo hepático direito. No 9º dia pós-cesariana, a doente realizou exérese do segmento 5 do fígado e colecistectomia. A peça cirúrgica foi enviada para estudo histológico, tendo sido diagnosticado Adenoma Hepatocelular de tipo Inflamatório. A doente manteve vigilância com ecografia abdominal, estudo da função hepática e medição de alfa-fetoproteína de forma semestral nos primeiros dois anos após a resseção cirúrgica e, posteriormente, de forma anual. Durante o seguimento, não foram encontradas alterações ou novas queixas. Partindo deste caso clínico, fez-se uma revisão da literatura sobre o adenoma hepático e sobre a evidência científica atual desta entidade. Destacam-se ainda as principais complicações do tumor, especialmente no período gestacional. Apesar de ser uma entidade rara, pelo risco hemorrágico e potencial de malignização, a sua apresentação clínica e complicações devem ser atempadamente reconhecidas. Acresce ainda que, na mulher grávida, pelo risco aumentado de rotura espontânea do tumor e pela possibilidade de complicações major para o bem-estar fetal e materno, deve ser considerado como uma hipótese diagnóstica e perante um diagnóstico prévio de adenoma hepatocelular, o seu crescimento deve ser devidamente vigiado. A gravidez não está contraindicada em mulheres com adenomas de tamanho inferior a 5 cm.
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