Summary: | Introdução: O mindfulness tem sido definido como a consciência que surge de prestar atenção, com intenção, ao momento presente, suspendendo julgamentos. Este tem sido incorporado em protocolos de tratamento de várias perturbações psiquiátricas com o objetivo de intervir em processos mentais que contribuem para a desregulação emocional e para o comportamento desadaptativo. Vários estudos indicam que mindfulness está negativamente correlacionado com perturbações como alexitimia e que pode estar também correlacionado negativamente com somatização. Sendo a alexitimia um fator de risco para o desenvolvimento de várias perturbações clínicas, verificou-se que a somatização não é incomum nestes indivíduos. Objetivo: O principal objetivo deste estudo foi investigar de que forma o mindfulness, como traço, se relaciona com a alexitimia e a somatização. Métodos: : Este estudo transversal consistiu na aplicação de um questionário online anónimo aos alunos da Universidade da Beira Interior, construído para o efeito, constituído por 5 secções: 1) Dados Sociodemográficos e Académicos: género, data de nascimento e curso; 2) Antecedentes Pessoais Médicos; 3) Five Facet Mindfulness Questionnaire (FFMQ); 4) Escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20); 5) Symptom Checklist-90 Revised (SCL-90-R). Todas as escalas se encontram validadas para a população portuguesa. Foram testadas as associações entre sexo, antecedentes e curso com mindfulness, alexitimia e somatização através de testes paramétricos. Para estudar a associação entre mindfulness, alexitimia e somatização calculou-se o coeficiente de Pearson. Procedeu-se à análise de Regressão linear para avaliar a relação entre mindfulness (e as suas facetas) e a alexitimia (e os seus fatores) e somatização, ajustando em função do sexo, da idade e do curso. Finalmente, foi estudado o efeito mediador do mindfulness, através da análise de Regressão Linear Múltipla. Resultados: Foi encontrada uma correlação negativa entre o mindfulness e a alexitimia, sendo esta relação superior para a dificuldade em identificar os sentimentos (F1) e para os descrever aos outros (F2). As facetas que apresentam uma correlação negativa significativa com alexitimia são: Describe, Awareness e Nonjudge. Observe apresentou uma correlação positiva. Alexitimia mostrou uma correlação positiva significativa com somatização, sendo essa relação mais forte com F1 e, em menor grau, com F2. Verificou-se uma correlação negativa significativa entre mindfulness e a somatização. A análise do mindfulness como mediador na relação entre a alexitimia e a somatização mostrou que quando inserimos o mindfulness como fator mediador, o efeito significativo da alexitimia na somatização deixa de ser significativo, o que poderá indicar que o mindfulness tem um papel protetor que previne a associação da alexitimia à somatização. Discussão: Foram analisados os questionários de 247 alunos da Universidade da Beira Interior, dos quais 180 (73%) do sexo feminino e 139 alunos (56%) a frequentar o curso de Medicina. Os resultados obtidos comprovam a hipótese de maior mindfulness estar relacionado com menores níveis de alexitimia, assim como menores níveis de somatização. Níveis superiores de alexitimia, correlacionam-se com maior somatização e o mindfulness é um mediador nesta relação. Ainda assim, são necessários estudos longitudinais com amostras maiores e com uma população mais diversificada para esclarecer o papel do mindfulness na relação entre alexitimia e somatização. Investigações futuras devem analisar de que forma se poderá aumentar o mindfulness como traço e se Intervenções Baseadas no mindfulness obtêm resultados semelhantes aos obtidos neste estudo para o mindfulness como traço.
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