Summary: | A presente tese, elaborada para a obtenção do grau de Doutor em História, especialidade de História Moderna, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem por finalidade contribuir para o conhecimento das escritoras portuguesas anteriores ao ano de 1900, designadamente das que professaram em Ordens religiosas e escreveram sobre matérias espirituais. O seu primeiro objectivo é gizar a trajectória de vida de Soror Isabel do Menino Jesus (1673- 1752), no século Isabel Fernandes, natural de Marvão, no Alto Alentejo, religiosa professa da Ordem de Santa Clara, no Convento de Santa Clara de Portalegre, falecida com fama de santidade e prestígio de mestra do espírito, depois de ali ter vivido quase cinquenta anos, tendo sido mestra da Ordem e abadessa. O seu segundo objectivo é analisar os textos da autora, os quais versam exclusivamente sobre ascética e mística: trinta e seis cartas, uma autobiografia, uma súplica e um tratado. A sua obra propõe um caminho espiritual segundo as escolas místicas franciscana e carmelita, pelas três vias do espírito (purgativa, iluminativa e unitiva) e por três noites escuras; e insiste na castidade, à qual chama ciência das virtudes. Realiza-se, pois, um estudo de caso, com enquadramento na ortodoxia católica, por ter sido neste campo que a autora escreveu, recebendo pareceres positivos da sua Ordem e da censura. A obra foi impressa em 1757, cinco anos depois da sua morte, organizada por Frei Martinho de São José, seu confessor, com uma estampa-retrato da autora, aberta por Jean Baptiste Michel Le Bouteaux. O manuscrito autógrafo que lhe deu origem julgava-se perdido, após extravio pela época da extinção do convento, em 1834, mas foi encontrado à venda numa livraria alfarrabista, em Lisboa, em 2013, sendo então adquirido pela Câmara Municipal de Marvão. Este documento, do qual se apresenta transcrição, foi a primeira fonte da tese, à qual se juntaram muitas outras, manuscritas e impressas, concorrendo para recolocar a autora no conhecimento geral das escritoras portuguesas e também dos místicos de Portugal, dos quais pouco se sabe.
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