Summary: | Neste trabalho pretende-se analisar a actualidade das classes sociais na explicação do voto partidário. Estuda-se a pertinência do modelo sociológico de comportamento eleitoral e a importância do volume e da estrutura do capital, conceitos retirados dos contributos de Bourdieu para o comportamento eleitoral em eleições legislativas. A discussão teórica centraliza-se, principalmente, em torno dos contributos de Wright, de Bourdieu, de Inglehart e de teorizações mais específicas sobre o comportamento eleitoral. Para alcançar tal objectivo, compararam-se as configurações da estrutura de classes nos concelhos dos distritos de Lisboa e Setúbal, nomeadamente a classe social, a estrutura de propriedade, a relação entre proprietários e não proprietários, qualificados e não qualificados, outras relações, e a respectiva distribuição do voto partidário. Recorrendo à tipologia de classes de Almeida, Costa e Machado (ACM), conclui-se que os empresários, dirigentes e profissionais liberais, e os empregados executantes (ou seja, empregados administrativos, entre outros) parecem constituir padrões de voto relativamente estáveis com orientações partidárias distintas, estando-se possivelmente perante uma política de classes. Os quadros intelectuais e científicos e os técnicos intermédios, os trabalhadores independentes e os agricultores independentes parecem apresentar uma relativa independência em relação ao voto. O operariado apresenta um padrão de voto complexo, havendo diversos factores que contribuem para tal. Os assalariados agrícolas não têm peso estatístico significativo para se inferirem eventuais conclusões. Destaca-se, então, a centralidade dos empregados do sector terciário na política de classe, sector em expansão contínua nas nossas sociedades, tal como a centralidade da relação capital-trabalho no comportamento eleitoral.
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