Summary: | Os bifosfonatos (BPs) são inibidores específicos da atividade osteoclástica e, por isso, são utilizados no tratamento do Mieloma Múltiplo (MM) como terapêutica de suporte para inibir a progressão da atividade osteoclástica. No entanto, os BPs estão associados a uma grave complicação adversa, a osteonecrose dos maxilares, relacionada com a medicação (ONMAM). A literatura médica científica refere fatores de risco de osteonecrose. Fatores locais, como extrações dentárias, problemas periodontais e o uso de implantes ou próteses podem conduzir ao desenvolvimento de ONMAM. OBJETIVOS: Os principais objetivos deste estudo foram verificar a frequência ONMAM, identificar os principais sinais e sintomas orais, bem como, quais os fatores locais desencadeantes e comorbilidades associadas e avaliar de que forma o tempo decorrido entre o início das infusões de bifosfonatos e a realização de procedimentos cirúrgicos, como extrações dentárias, influenciam o desenvolvimento de osteonecrose. MATERIAIS E MÉTODOS: Este estudo retrospetivo foi realizado no serviço de Hematologia Clínica do Hospital de Santo António da cidade do Porto, Portugal, entre abril e junho de 2018. Para a constituição da amostra, foram selecionados todos os doentes com MM que foram à consulta de Estomatologia e Cirurgia Maxilofacial e, destes, foram registados os que realizaram procedimentos cirúrgicos como a realização de extrações dentárias. Identificaram-se os doentes que desenvolveram osteonecrose e registaram-se os sinais e sintomas observados na consulta de Estomatologia e Cirurgia Maxilofacial como dor, inflamação, supuração, fístula e exposição óssea, a presença de próteses mal adaptadas e a presença de doenças dentárias inflamatórias preexistentes. RESULTADOS: A amostra foi composta por 112 doentes, 61 do sexo feminino (54,5%) e 51 do sexo masculino (45,5%) com uma média de idades de 71,52 11,78 anos. Nesta população de estudo observou-se uma prevalência de osteonecrose de 15,2%, não se registando diferenças estatisticamente significativas entre os dois sexos. A localização mais frequente de osteonecrose foi a mandibula (64,7%). Clinicamente, a exposição óssea foi o sinal mais frequentemente observado, presente em 100% dos doentes, seguida pela inflamação em 82,4% dos casos; 70,6% dor orofacial; 47,1% supuração; 17,6% fístula intra ou extra-oral. CONCLUSÃO: A osteonecrose maxilar é uma complicação relativamente frequente nos doentes com MM a realizar ácido zolendrónico intravenoso (IV). O principal fator desencadeante é a extração dentária. Na amostra de doentes com MM verificou-se que é 13,8% mais provável desenvolver ONMAM após uma extração dentária e não se observou uma dependência entre o tempo decorrido entre o início das infusões e a realização de procedimentos cirúrgicos.
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