Summary: | A zona costeira é uma das áreas mais congestionadas do planeta, não só a nível da população mas também de atividades. Assim torna-se imperativo que o Ordenamento do Território seja um tema central para um correto uso e desenvolvimento destas áreas. As atividades de recreio e lazer ligadas ao mar não fogem a esta situação, caso do surf, que com uma crescente adesão à modalidade a nível nacional e mundial, verifica-se a necessidade urgente de integrar o Ordenamento do Território e o surf, pelo seu impacto territorial. Em Outubro de 2011 a Ericeira, freguesia do Concelho de Mafra, foi reconhecida pela importância e qualidade das suas ondas à qual se veio a designar desde então como Reserva Mundial de Surf da Ericeira. É igualmente nesta altura que com mais profundidade e preocupação é abordada a necessidade de preservar as ondas nos Programas da Orla Costeira, com valorização social, económica e ambiental, com impacto a nível local e a nível nacional. O objetivo geral desta dissertação consiste em compreender e avaliar a forma como o surf é vista pelos seus diferentes utilizadores na Ericeira, particularmente, na área da Reserva Mundial de Surf da Ericeira, bem como entender a sua ligação e integração com os Instrumentos de Gestão do Território. A fim de alcançar os objetivos propostos, a metodologia seguida teve não só por base a recolha bibliográfica, como também a realização de inquéritos por questionário durante os meses de Abril a Julho de 2018 e, entrevistas realizadas aos principais stakeholders. A amostra abrange utilizadores da Praia de Ribeira d’Ilhas e Praia dos Coxos, praticantes de surf ou não. Através dos dados obtidos conclui-se que os utilizadores da Praia de Ribeira d‘Ilhas e da Praia dos Coxos têm um diferente perfil em relação à idade, ao número de praticantes, ao grau de experiência da prática do surf, ao concelho de residência, e a forma como percecionam as características da praia e motivo da visita à praia. Indiscutivelmente, em ambos os grupos há referência à existência de conflitos de usos balnear, entre surfistas, escolhas de surf e banhistas na água, e não só consideram que o fator “ondas” como um elemento muito importante para a região, um recurso natural com grande impacto para economia local. Nas entrevistas foi possível ver que da preservação ao marketing, a RMSE é um elemento de dualidades na opinião dos stakeholders. Para uns é uma oportunidade, para outros uma ameaça. É da forte participação dos agentes locais que aqui são tomadas importantes decisões em relação ao surfem conjunto com a administração local. É possível igualmente concluir que se não fosse a Reserva Mundial de Surf da Ericeira muito dificilmente o Programa da Orla Costeira – Alcobaça - Cabo Espichel teria regulamentado ondas do nível I e II. Este galardão internacional, pelo seu mediatismo colocou a orla costeira e o surf nos assuntos do Ordenamento do Território, sensibilizando para a proteção destes locais e respetivas ondas . Assim, pela primeira vez serão regulamentados os sítios das ondas, uma inovação não só à escala nacional como à escala europeia.
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