Summary: | O objectivo deste trabalho foi estudar o fluxo de materiais e de energia no bacteriopâncton do complexo sistema da Ria de Aveiro. O estudo de campo permitiu caracterizar perfis longitudinais, verticais e tidais de abundância e de produtividade bacteriana, pondo em evidência alguns dos factores que controlam esses padrões de variação. Os ensaios laboratoriais foram realizados para caracterizar o potencial bacteriano de reactivação, o efeito das correntes tidais sobre a actividade do bacteriopâncton e a contribuição da infecção viral e da predação para a mortalidade bacteriana. No estuário foram encontrados perfis longitudinais de abundância (bactérias totais 2,6-15,3 x 109 l-1 e bactérias activas 0,1-3,7 x 109 l-1) e de produtividade (0,05-18,6 μg C l-1 h-1) distintos, com máximos no estuário médio e mínimos no estuário inferior. Na secção mais baixa do estuário a abundância e produtividade foram semelhantes ao longo da coluna de água mas, na zona marinha, a produtividade bacteriana foi significativamente mais elevada à superfície (até 0,5 m) que nas camadas mais profundas da coluna de água. Foi observado um padrão tidal de variação bastante nítido, nomeadamente na zona marinha, caracterizado por aumentos de densidade e produtividade perto da baixa mar e decréscimos na preia mar. A variação sazonal do bacteriopâncton foi característica de um sistema temperado, com picos durante a estação quente e valores mais baixos nos meses frios. Neste estuário, a maior parte das bactérias (cerca de 70 %) são aparentemente inactivas e podem não responder, em períodos curtos de 3 horas, à estimulação com nutrientes. De entre os factores ambientais estudados, a temperatura e a salinidade foram as variáveis que melhor explicaram a variação bacteriana. A disponibilidade em substratos também foi um factor importante no controle da actividade bacteriana, nomeadamente na zona marinha do estuário. Embora durante a estação quente uma média de 21 % da produção primária seja potencialmente suficiente para suportar a produção bacteriana no estuário, a matéria orgânica aloctone pode suportar uma parte significativa do crescimento bacteriano, nomeadamente nos meses frios e na zona salobra. A contribuição da ressuspensão de sedimentos e da entrada de materiais particulados a partir da área de sapal pode ser considerada irrelevante para a actividade bacteriana. A infecção viral e a predação exercem um controle forte sobre o bacteriopâncton da Ria. A contribuição da predação para a mortalidade bacteriana foi similar ao longo do estuário (69 % na zona marinha e 73 % na zona salobra) mas o controle por infecção viral (nas condições da experiência) na zona salobra atingiu quase o dobro (59 % na zona salobra e 36 % na zona marinha). A capacidade de resposta rápida à variação das características da água põe em evidência a existência de reactividade bacteriana durante o ciclo tidal. Os diferentes perfis de variação apresentados pelas bactérias marinhas e salobras sugerem que a comunidade bacteriana pode variar ao longo do estuário.
|