Resumo: | O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a maior causa de morbilidade dos países ocidentais. Portugal não é exceção, com cerca de 25.000 internamentos anuais e dois óbitos por hora motivados por estes episódios. Os efeitos pessoais, sociais e económicos que provocam na sociedade levam a que, cada vez mais, se aposte mais na prevenção dos fatores de risco associados. A adoção de estilos de vida saudáveis, com destaque para a prática regular de atividade física, assume-se benéfica para a saúde, nomeadamente, para o controlo de problemas cérebro-cardiovasculares. Em Portugal, o concelho da Murtosa é aquele que apresenta maior utilização regular da bicicleta em termos relativos (17%) sendo tal prática considerada uma forma relevante de atividade física. Existe perceção que uma parte significativa destes utilizadores são jovens e idosos mas não sendo conhecidos estudos em Portugal que relacionem o uso da bicicleta com a saúde. O objetivo principal deste estudo é avaliar se o uso regular da bicicleta está inversamente associado ao risco de desenvolver AVC, em pessoas idosas, residentes no concelho da Murtosa. Os objetivos específicos são: avaliar o estado de saúde atual das pessoas idosas com 65 ou mais anos, do concelho Murtosa, inscritas no centro de saúde local com diagnóstico clínico de AVC em 2014; avaliar o estado nutricional dos participantes; identificar os principais fatores de risco associados aos casos de AVC registados no centro de saúde da Murtosa; e, identificar a frequência, a duração e o motivo que leva à utilização da bicicleta ao longo da vida dos participantes no estudo. A escolha do foco de investigação resulta da importância da problemática e do interesse demonstrado pelas entidades locais. Este estudo é quantitativo, analítico, observacional e retrospetivo do tipo caso-controlo, envolvendo pessoas idosas do concelho da Murtosa. Os casos são 17 pessoas, com 65 ou mais anos, com diagnóstico clínico de AVC em 2014 e os controlos são 17 pessoas com 65 ou mais anos aparentemente saudáveis em 2014. Os dados recolhidos para a investigação incluíram os seguintes questionários para obter: i) informação sociodemográfica; ii) hábitos tabágicos e bebidas alcoólicas; iii) estado nutricional e frequência alimentar; iv) estado geral de saúde; v) necessidades de saúde e de cuidados; vi) atividade física atual; e vii) informação sobre o uso da bicicleta. Foi ainda recolhida informação a partir dos registos de cada participante constante no Centro de Saúde da Murtosa. Os dados foram analisados através do software estatístico Statistical Package for Social Sciences, versão 20. Os resultados sugerem que há uma tendência para que o risco de desenvolver AVC seja menor nas pessoas que usam bicicleta, pela análise da razão dos produtos cruzados (Odds Ratio) - valor de 0,74 para um intervalo de confiança a 95% de [0,16;3,41]. As variáveis glicémia (OR=1,21; IC95%: [1,06;1,38]; p-value=0,00) e atividade física (OR=0,03; IC95%: [0,00;0,25]; p-value=0,00) revelaram-se significativas na predição do AVC, através da análise de regressão logística. O uso regular da bicicleta apresenta uma tendência para estar inversamente associado ao risco de desenvolver AVC, mas não é uma relação significativa devido à dimensão reduzida da amostra, seriam necessários mais participantes para confirmar este resultado. Além disso, podem existir outros fatores que influenciem a ocorrência de AVC.
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