Tornar-se mãe, tornar-se pai : estudo sobre a avaliação das competências parentais

Introdução: Tornar-se mãe e tornar-se pai constituem processos de mudança que encerram em si transições. A partir da gravidez, e ao longo do tempo, tanto as mães como os pais necessitam de preparar-se para o exercício do papel. Neste contexto, a mestria nas competências parentais é relevante para a...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Cardoso, Alexandrina Maria Ramos (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2016
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.14/20745
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ucp.pt:10400.14/20745
Description
Summary:Introdução: Tornar-se mãe e tornar-se pai constituem processos de mudança que encerram em si transições. A partir da gravidez, e ao longo do tempo, tanto as mães como os pais necessitam de preparar-se para o exercício do papel. Neste contexto, a mestria nas competências parentais é relevante para a saúde da criança e para a satisfação e eficácia no exercício do papel de mãe e de pai. Para responder às necessidades de aprendizagem das mães e dos pais, os enfermeiros são desafiados a procurar soluções inovadoras e efetivas, tanto no domínio do diagnóstico centrado nos processos de transição para a parentalidade, como no domínio da informoterapia com vista ao desenvolvimento das competências parentais. Assim, partiu-se para um estudo cuja finalidade foi contribuir para aperfeiçoar o processo diagnóstico através da construção de um instrumento que sistematize a avaliação das competências parentais para o exercício saudável do papel parental, desde a gravidez até ao 6.º mês de idade da criança, ampliando, por essa via, o conhecimento sobre as competências parentais e, em consequência, a qualidade dos cuidados. Neste estudo, as competências parentais (CP) foram definidas como o conjunto de conhecimentos, de habilidades e de atitudes que promovem o desempenho do papel parental com satisfação e mestria, contribuindo deste modo para o potencial máximo de crescimento e de desenvolvimento da criança. Material e métodos: O desenho do estudo contemplou duas fases. A primeira fase, que englobou duas etapas, teve como propósito construir um instrumento de avaliação das CP (I_ACP). Na 1.ª etapa desta fase, procurou-se identificar as CP, através dos discursos das mães e dos pais, complementando o processo com base na revisão da literatura. Da análise de conteúdo das entrevistas realizadas a mães e a pais (51) e da revisão da literatura emergiram um conjunto de 17 CP e 193 indicadores, que serviram de base à construção do I_ACP. Na 2.ª etapa, o conteúdo e a lógica de aplicação do I_ACP foram analisados e validados por peritos na área. Da análise das condições de aplicação do I_ACP resultou a inclusão de uma escala de avaliação de autoeficácia nos cuidados ao filho (PAE_CF). O I_ACP e a escala PAE_CF revelaram propriedades psicométricas adequadas para efeitos de análise estatística. A segunda fase teve como propósito caracterizar as CP, no período que medeia entre a gravidez e o 6.º mês de idade do filho. Participaram no estudo 634 mães e 129 pais, num total de 1228 contactos com mães e 184 com pais distribuídos pelos cinco momentos previstos para a avaliação das CP. A média de idades das mães foi de 29,5 anos e a dos pais de 32,1 anos. A maioria das mães (42,0%) possuía formação de nível superior e a maioria dos pais (37,6%) possuía formação de nível básico. Para 71,8% das mães, a gravidez correspondia ao primeiro filho. Resultados: As mães revelaram nível fraco (0,20-0,40) nos conhecimentos associados às CP: lidar com choro; reconhecer o padrão de crescimento e desenvolvimento normal; tratar coto umbilical; amamentar; e, estimular o desenvolvimento; já na CP: colocar a eructar, as mães revelaram maior nível de conhecimentos, atingindo o nível de bom (0,60- 0,80). No que concerne às habilidades das mães nas CP, constatou-se que, em todas, as mães revelaram nível superior a razoável (>0,40), sendo que nas habilidades nas CP: vestir/despir e colocar a eructar, as mães atingiram nível muito bom (>0,80). Nas diversas CP, os pais revelaram nível de conhecimentos entre muito fraco (<0,20) e fraco, revelando nível muito fraco nas CP: amamentar, criar hábitos para dormir, lidar com choro, tratar do coto umbilical, reconhecer o padrão de crescimento e desenvolvimento normal e integrar novo elemento na família; a exceção verificou-se ao nível dos conhecimentos na CP: colocar a eructar, na qual os pais evidenciaram nível razoável. No que se refere às habilidades dos pais nas CP, observou-se que os pais revelaram nível muito fraco nas habilidades relacionadas com a CP: promoção e vigilância da saúde e nível fraco nas CP: lidar com problemas comuns na criança e lidar com o choro; evidenciando, contudo, nível muito bom nas habilidades associadas à CP: colocar a eructar. As mães que revelaram maior nível nas CP foram as mais velhas, as que possuíam formação de nível superior, as que coabitavam com o pai do filho, as que já tinham outros filhos e experiência parental anterior, cuja gravidez foi planeada, as que optaram pelo serviço privado, as que não previam ter ajuda nos cuidados à criança após o nascimento e as que referiram o enfermeiro como fonte de informação. Os pais que revelaram maior nível nas CP foram os que coabitavam com a mãe do filho, os que já tinham outros filhos e experiência parental anterior, os que optaram pelo serviço privado, os que previam colaborar nos cuidados, os que colaboravam efetivamente após o nascimento da criança e os que referiram o enfermeiro, o médico e os livros como fonte de informação. Conclusões: O I_ACP revelou ser um instrumento efetivo na avaliação das CP. Os filhos são “mais filhos das mães do que dos pais”. De facto, as mães revelaram médias superiores às dos pais tanto nos conhecimentos como nas habilidades. A integração das CP decorre de modo diverso nas mães e nos pais, constituindo o nascimento do filho um evento crítico para o envolvimento do pai nas tarefas parentais. Constatou-se a ausência de um “plano de parentalidade”, na medida em que o que as mães não sabiam, os pais também não sabiam. No âmbito da promoção das competências parentais, importa considerar como clientes prioritários dos cuidados, dado serem os que revelam menor nível de conhecimentos e de habilidades nas CP, as mães mais jovens, as solteiras com menor nível de escolaridade, as mães pela primeira vez, as mães cuja gravidez não foi planeada e as mães com níveis baixos de perceção de autoeficácia, bem como, os pais não envolvidos na preparação para a paternidade e os pais que o são pela primeira vez. Os resultados deste estudo contribuem, desde já, com o conteúdo relativo às competências parentais, e respetivos indicadores, e com um conjunto de propriedades orientadoras do algoritmo do processo diagnóstico. O desafio passa por construir ferramentas educacionais, nomeadamente com recurso às novas tecnologias, que incorporem os conceitos do processo de enfermagem e que otimizem o efeito terapêutico da informoterapia prescrita pelos enfermeiros.