Summary: | O cancro da cabeça e pescoço está associado a uma elevada mortalidade e morbilidade, e acredita-se que 50% dos pacientes com este tipo de cancro experienciem uma perda de peso significativa numa fase avançada de doença, uma condição designada de caquexia. A patofisiologia da caquexia associada ao cancro é complexa e envolve mediadores produzidos pelo tumor ou pelo hospedeiro em resposta ao tumor, que induzem alterações sistémicas que culminam na perda de peso e consequente perda da qualidade de vida. Com o objetivo de melhor compreender os mecanismos moleculares subjacentes à caquexia associada ao cancro da cabeça e pescoço, no presente trabalho colectamos dados clínicos e analisamos amostras de soro de 17 pacientes com carcinoma espinocelular na orofaringe ou hipofaringe, com e sem caquexia (determinada com base na perda de peso corporal superior a 5% nos 6 meses anteriores). Os resultados obtidos permitiram verificar que o índice de massa corporal bem como o estadio do tumor (T3 e T4 em ambos os grupos) não se relacionam com a presença de caquexia, apesar de os índices nutricionais MUST e PG-SGA serem mais elevados nos doentes com perda de peso corporal superior a 5% em 6 meses. Mais ainda, não se observaram diferenças significativas de marcadores bioquímicos indicativos de alterações metabólicas associadas à remodelação do tecido adiposo. Os níveis séricos da citocina pró-inflamatória TWEAK e da proteína de fase aguda CRP não foram significativamente diferentes entre os 2 grupos de pacientes, bem como os níveis das adipocinas, leptina e adiponectina e da hormona gástrica grelina. No entanto, observaram-se níveis séricos da citocina catabólica miostatina significativamente mais elevados nos pacientes com caquexia, o que sugere que o catabolismo muscular contribui para o desenvolvimento desta síndrome paraneoplásico. Em resumo, os resultados obtidos no presente estudo não suportam a contribuição da remodelação do tecido adiposo para o desenvolvimento de caquexia mas evidenciam a importância do catabolismo muscular para a perda de peso corporal nos doentes com cancro da cabeça e pescoço. Estudos futuros envolvendo mais grupos de doentes e mais doentes por grupo serão importantes para melhor compreender a contribuição da remodelação do tecido adiposo na patogénese da caquexia associada ao cancro da cabeça e pescoço.
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