Resumo: | O ozono troposférico (O3) é um dos poluentes atmosféricos de maior preocupação na atualidade, devido aos diversos efeitos nocivos que pode causar à saúde das populações e aos prejuízos económicos decorrentes da destruição de culturas agrícolas, florestais e de estruturas de elevado valor arquitetónico. Além disso, as variações das concentrações de ozono da camada superficial da atmosfera são complexas e significativas, o que dificulta o estudo da sua dinâmica e a adoção de estratégias de redução adequadas. Este estudo teve por objetivo analisar as variações da concentração do O3 troposférico na Zona Industrial de Mirandela (Portugal), a fim de identificar padrões temporais e espaciais do poluente e, paralelamente, avaliar a qualidade do ar na zona industrial e a consequente influência nas comunidades circunvizinhas. A concretização do objetivo envolveu a instalação de um sistema de monitoração da qualidade do ar, constituído por uma estação meteorológica, constituída por um anemómetro de copos e um catavento, um termómetro, um piranómetro e um raingauge, e três analisadores óticos de gases poluentes, nomeadamente os HORIBA APOA-370, APNA-370 e APMA-370 para monitorar, continuamente, os níveis de ozono troposférico (O3), monóxido de carbono (CO) e óxidos de azoto (NOx), respetivamente. Ademais, realizaram-se campanhas de recolha de amostras, com recurso a amostradores difusores passivos dos poluentes O3, NO2 e dos 10 Compostos Orgânicos Voláteis (COV) mais abundantes em cada local de amostragem. Estes amostradores foram instalados em diferentes locais distribuídos pela zona industrial e sua envolvente, para se avaliar a variação espacial dos mesmos. Os resultados permitiram identificar tendências diárias e sazonais da concentração de O3, além de correlações que evidenciam a interdependência entre diversas variáveis ambientais/climáticas e as variações dos níveis de O3. Os resultados dos difusores passivos indicaram uma predominância de ozono na região oeste da zona e deslocado da via principal de circulação automotiva, o que vai de acordo com a tendência dos ventos observada. Finalmente, constatou-se que os níveis de ozono registados, a longo prazo, podem colocar a saúde humana em risco e são suficientemente elevados para causar danos aos diferentes ecossistemas ali presentes, na medida em que o índice AOT40 para vegetação rasteira e floresta ultrapassou os valores alvo estabelecidos na legislação em 30% e 106,4%, respetivamente. Para o NET60 obteve-se um resultado de 38 dias com concentrações máximas octo-horárias acima de 60 ppb, ultrapassando o valor alvo nacional estipulado em 25 dias. O índice AOT60 foi o único abaixo do valor alvo, atingindo um valor anual acumulado de 222,7 ppb. A avaliação da qualidade do ar e da contribuição local e regional, com base nos níveis de ozono e seus precursores na zona industrial, permitiu detetar que é possível mitigar/controlar os níveis de ozono, sendo uma estratégia eficaz a adoção de medidas de carácter mais globais, dado que resultam de uma componente regional significativa, além de ter sido constatado a redução dos níveis de ozono em zonas com altos níveis de NOx, indicando a destruição do O3.
|