Carmina figurata e a teoria da imagem carolíngia: contributos para uma reflexão sobre a relação texto-imagem

A presente tese investiga os poemas figurados compostos entre c. 780 e c. 814, por Alcuíno, Josefo Escoto, Teodulfo e Rábano Mauro, na sua relação com o funcionamento político, social, cultural e religioso coevo. Verifica-se que estas obras não testemunham apenas um projecto ideológico de fôlego, ma...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Coutinho, Vânia Maria (author)
Formato: doctoralThesis
Idioma:por
Publicado em: 2016
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10362/19090
País:Portugal
Oai:oai:run.unl.pt:10362/19090
Descrição
Resumo:A presente tese investiga os poemas figurados compostos entre c. 780 e c. 814, por Alcuíno, Josefo Escoto, Teodulfo e Rábano Mauro, na sua relação com o funcionamento político, social, cultural e religioso coevo. Verifica-se que estas obras não testemunham apenas um projecto ideológico de fôlego, mas constroem-no. É notório um comprometimento com a elite que detém o poder, mas os poemas – por certo pela presença das imagens que lhes confere originalidade – não só resistem às suas circunstâncias, como manifestam a sua vida própria, uma capaz de gerar efeitos no espaço do comum. Assiste-se a uma produção excepcionalmente numerosa de poemas figurados no mesmo período em que a corte carolíngia se pronuncia sobre a querela das imagens bizantina. Investigam-se aqui os argumentos dos francos nos Libri Carolini, cujos contornos de redacção e (quase) proclamação oficial permitem aventar a hipótese de configurarem uma ‘teoria de Estado’ sobre a imagem, para a qual convergiriam os poemas figurados, designadamente os de Rábano Mauro. De acordo com interpretações historiográficas, em causa estaria a valorização das Escrituras e da cultura escrita em detrimento das imagens, subordinando a visualidade dos poemas à Palavra, ao texto, ao seu significado e vocação espiritual. A figuração, destituída da sua materialidade, actuaria fundamentalmente como apelo ao invisível e à vivência da religiosidade, ideia que se discute. Tendo presente a investigação sobre a eventual origem e linhagem poética dos poemas figurados, bem como a sua recepção em momentos particulares da história, explora-se como a tendente desvalorização do visual a que estas composições estão sujeitas tem antecedentes históricos. Isto é, contextos onde se formula uma antinomia entre texto e imagem – nomeadamente através da altercação, moderna, entre pintura e poesia e do desenvolvimento de paradigmas epistemológicos logocêntricos (de origem teológica, cultural ou política) – que condicionam, ainda hoje, os nossos modelos de análise. Neste sentido, procura-se também expor a imagem como irredutível às múltiplas soluções que a ‘textualizam’, vendo o que os poemas figurados mostram juntamente com o que dizem. Suspende-se a rasura da sua pictorialidade para acolher, enfim, o imperativo de unicidade que portam e os diferencia quer de um poema, quer de uma imagem, permitindo que aconteçam, com o texto, nesse espaço de pintura-poesia / texto-imagem. A reflexão exposta nas obras destes autores constitui um momento assinalável para discutir concepções sobre a imagem medieva, cujos contributos conceptuais e teóricos nos estudos crítico da relação entre texto e imagem, que nutriram esta investigação, são inegáveis; e são-no muito além da sua assinatura temporal.