A estação do neolítico antigo de Cabranosa (Sagres) : contribuição para o estudo da neolitização do Algarve

Este trabalho corresponde ao desenvolvimento de um outro, recentemente publicado, sobre a estação de Cabranosa. Este último, no qual se estudou de forma sistemática, o espólio arqueológico até ao presente recolhido, permitiu considerar a existência, nos primórdios do Neolitico antigo, datado na esta...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Carvalho, António Faustino (author)
Outros Autores: Cardoso, João Luís (author)
Formato: conferenceObject
Idioma:por
Publicado em: 2015
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10400.2/3827
País:Portugal
Oai:oai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/3827
Descrição
Resumo:Este trabalho corresponde ao desenvolvimento de um outro, recentemente publicado, sobre a estação de Cabranosa. Este último, no qual se estudou de forma sistemática, o espólio arqueológico até ao presente recolhido, permitiu considerar a existência, nos primórdios do Neolitico antigo, datado na estação pelo radiocarbono no terceiro quartel do VI milénio cal BC, de uma comunidade que, sedeada no extremo sudoeste da Península Ibérica, praticava já um modo de vida de tendência sedentária, com a presença de animais domésticos (cabra e/ou ovelha). Esta constatação impunha a realização de um estudo mais desenvolvido na perspectiva da integração cultural da estação e do seu próprio significado, no contexto geográfico regional e supra-regional em que se insere. O exercício comparativo efectuado permitiu concluir que a produção cerâmica (que inclui vasos cardiais produzidos localmente) se distingue, a vários títulos, das produções homólogas do Neolítico antigo do litoral alentejano e da Andaluzia ocidental, geograficamente mais próximas, face às das fases mais tardias do Neolítico cardial da Andaluzia oriental e do País Valenciano, mais longínquas. Também ao nível dos conjuntos de pedra lascada se detectaram diferenças entre o recolhido na Cabranosa e, de modo mais geral, os das estações algarvias, face à realidade conhecida das estações do litoral alentejano, na passagem do Mesolítico para o Neolítico. Os elementos referidos afiguram-se de importância significativa na discussão dos modelos possíveis que presidiram à neolitização do litoral meridional português. No estado actual dos conhecimentos, afigura-se provável a existência simultânea de duas comunidades culturalmente distintas na referida orla litoral: uma, mesolítica, de há muito estabelecida em ecossistemas litorais, praticando uma economia de caça-pesca-recolecção; outra, já neolítica, estabelecida na faixa litoral algarvia, com uma economia já de produção (pelo menos a pastorícia e, muito provavelmente a agricultura), portadora de uma cultura material diferente. Posta nestes termos discussão, é forçoso concluir que a génese do Neolitico no litoral algarvio (de que é paradigma a estação de Cabranosa) parece ter-se ficado a dever à presença de grupos populacionais oriundos possivelmente da costa levantina da Península, os quais teriam interagido, ulteriormente, com os já sedeados na região, designadamente os que se dispersavam ao longo do litoral alentejano. Porém, como é óbvio, a definição cultural destes dois hipotéticos grupos está longe de se poder considerar satisfatória, bem como discutível se afigura, também, a cronologia do referido processo de interacção: se, em meados do VI milénio cal BC (se se considerarem os dados cronométricos de Vale Pincel ou Medo Tojeiro), ou apenas a partir do início do V milénio cal BC (a aceitar-se somente os dados do concheiro do cabeço das Amoreiras, no baixo vale do Sado). É admissível, ainda, qualquer data intermédia, visto que o concheiro das Amoreiras se situa já numa posição periférica relativamente ao possível foco de neolitização considerado, a partir do litoral algarvio. A terminar, é feita breve alusão à emergência do fenómeno megalítico regional: na estação de Cabranosa, não se conhecem menires partilhando o espaço de ocupação neolítica, situação que concorda com os escassos indicadores cronológicos que fazer corresponder, quando muito, ao Neolítico antigo evoluído as primeiras manifestações megalíticas (menires e sepulcros proto-megalíticos).