Summary: | Esta proposta de comunicação resulta de uma análise antropológica centrada na experiência do diagnóstico e tratamento de um adenocarcinoma do endométrio vivida por uma mulher portuguesa. A dimensão incorporada do seu conhecimento e narrativa permite-nos compreender um conjunto específico de problemas enfrentados por mulheres com cancros ginecológicos, mostrando como concepções de doença, tratamento, corporeidade, sexualidade, maternidade e resistência se interligam. Metodologicamente, esta análise combina narrativa oral, antropologia e ilustração científica criativa, ou seja, pintura e desenho etnográfico potenciados pelo uso da metáfora e da imaginação. Este exercício híbrido e colaborativo implicou uma mistura nivelada de fala, texto e imagem, partindo das palavras da mulher entrevistada. Conceptualmente, estas práticas visuais criativas são entendidas como recursos ontológicos, epistemológicos e performativos, ampliando a forma como a ciência social pode produzir conhecimento e ação em questões de saúde e doença (Noronha, 2019). Esta análise ilustrada também pretende desmantelar estereótipos enraizados na forma como vemos e entendemos as mulheres, as doenças ginecológicas e os órgãos sexuais, trazendo para a discussão um tipo de cancro que, apesar de frequente, permanece ausente da discussão pública e da imagética coletiva, sendo igualmente descurado pela ciência social.
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