Resumo: | Melhorar a segurança rodoviária é um dos fatores mais relevantes de maneira a impulsionar a utilização dos modos ativos de mobilidade. Assim, a simulação computacional mostra-se fundamental para o apuramento das causas e consequências do estudo da dinâmica de acidentes rodoviários. O objetivo desta dissertação de mestrado é reconstituir acidentes, recorrendo ao software PC-CRASH, envolvendo ciclistas em zonas urbanas e analisar a influência dos elementos da via com o nível de gravidade do acidente para o ciclista. Foram desenvolvidas simulações de colisão envolvendo onze veículos motorizados de cinco categorias e três tipos de veículos de mobilidade ativa (bicicleta convencional, bicicleta elétrica e, como caso adicional, uma trotinete elétrica). A interseção em estudo foi uma rotunda de duas vias, localizada na cidade de Aveiro, tendo sido desenvolvidos três cenários de colisão distintos (Caso Base, Caso Alternativo 1, Caso Alternativo 2). O Caso Base representa uma colisão onde o ciclista circula pela ciclovia tal como está desenhada na realidade, sofrendo uma colisão a 100º de um veículo que sai da rotunda pela via da direita. No Caso Alternativo 1 o ciclista circula pelo interior da rotunda, junto com o restante tráfego, com uma inclinação de 5º em relação à sua vertical, onde sofre uma colisão a 115º de um veículo que sai da rotunda em direção à via da esquerda. Por sua vez, o Caso Alternativo 2 representa uma possível mudança da ciclovia, mais afastada do anel exterior da rotunda, onde o ciclista sofre uma colisão a 90º com o automóvel. No estudo relativo às colisões com a bicicleta convencional foi variada a velocidade do automóvel mantendo-se a velocidade da bicicleta constante, enquanto nas simulações envolvendo os veículos de mobilidade elétrica a velocidade do automóvel foi constante e a variável foi a velocidade das bicicletas e trotinete. Por fim, foram analisados dois cenários de atropelamento por parte de um ciclista a um peão. A comparação dos diferentes cenários, foi feita com base nos valores de Head Injury Criterion (HIC) na zona da cabeça em dois momentos distintos de cada simulação: impacto com o automóvel e impacto com o asfalto. Os resultados relativos à bicicleta convencional mostram que nos três cenários, o risco de dano cerebral aumenta em função do aumento da velocidade do automóvel, com as diferenças de geometria dos diversos automóveis a ser um fator relevante. O Caso Base resultou nos valores de HIC para o ciclista mais elevados, enquanto as propostas alternativas resultaram em melhores resultados, até 42% mais baixos no Caso Alternativo 1 e 13% no Caso Alternativo 2. Nas simulações envolvendo a bicicleta elétrica e a trotinete elétrica, verificou-se uma tendência decrescente nos valores de HIC com o aumento da velocidade do veículo de mobilidade elétrica, sendo este comportamento mais significativo para a trotinete elétrica. Concluiu-se ainda que estes valores reduzidos de HIC na zona da cabeça para velocidades mais elevadas não foram representativos dos danos causados em outras partes do corpo que, através a observação das simulações, se mostraram mais afetadas pelo impacto. A análise das colisões entre um ciclista e um peão confirmou que a circulação de ciclistas em áreas dedicadas aos peões (p.e. passeios e passadeiras) representa um risco mais elevado ao nível de lesões cerebrais para o peão, em contraste com o cenário onde o ciclista transita pela ciclovia. Por fim, esta dissertação visa contribuir com dados importantes para a melhoria da segurança dos utentes vulneráveis da via, em particular os ciclistas, nomeadamente no desenvolvimento de infraestrutura dedicada para estes utentes e na importância da redução da velocidade de circulação dos veículos motorizados.
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