Summary: | O cancro pancreático (PC) corresponde à quarta principal causa de morte tumoral, sendo que a incidência desta doença é muito próxima à taxa de mortalidade a ela associada. O prognóstico para indivíduos com PC tem evoluído muito lentamente nas últimas décadas, devido ao avanço limitado nos métodos de diagnóstico e terapias. Sabe-se que o PC é caracterizado por alterações em 5 principais genes, sendo os oncogenes o KRAS e o MYC os mais relacionados com este tipo de cancro. Têm assim sido utilizados modelos de murganhos geneticamente modificados com a finalidade de descobrir os possíveis agentes moleculares envolvidos no desenvolvimento e progressão do PC. O presente trabalho utilizou a metabolómica por espetroscopia de RMN de 1H, para caracterizar as alterações metabólicas resultantes de pancreatite (condição benigna) e do efeito da presença e ativação dos oncogenes KRAS e MYC no tecido pancreático de murganhos transgénicos. Para tal, na primeira parte (murganhos wild-type e modelo KRAS) analisaram-se extratos aquosos de pâncreas (n=41) e, numa segunda parte (modelos MYC e KRAS), extratos aquosos (n=82) e lipídicos (n=71) do mesmo orgão. Inicialmente, verificou-se que o perfil metabólico da pancreatite se distinguiu do tecido normal (alteração dos níveis de alanina, creatina, formato, fumarato, AMP, UMP, niacinamida, fenilacetato, GSH e ATP), e também do tecido com lesões neoplásicas PanIN de baixo grau (alteração dos níveis de alanina, creatina, fenilalanina e UDP-glucose ou –glucuronato). Além disso, verificou-se que a ativação do gene KRAS tem elevada influência nas alterações metabólicas que acompanham a evolução das lesões neoplásicas PanIN e o desenvolvimento dos tumores pancreáticos adenocarcinoma ductal e carcinoma sarcomatóide. A progressão da carcinogénese pancreática caracterizou-se pela diminuição de glutamina, 2-fosfoglicerato, fosfocolina, fosfoetanolamina, glicerofosfocolina e UDP-glucose ou –glucuronato e pelo aumento de 3-HBA, ascorbato, lactato, niacinamida, glucose e sacarose. Os dois tipos de tumor não apresentaram diferenças metabólicas significativas entre si. Na segunda parte do trabalho, verificou-se que o efeito da ativação individual do oncogene MYC promoveu mais alterações metabólicas do que a ativação conjunta dos oncogenes MYC e KRAS no metabolismo pancreático. A ativação do MYC caracterizou-se pela diminuição de glutamina, hipotaurina, isoleucina, compostos derivados da uridina e ácidos gordos e pelo aumento de glutamato, prolina, succinato e colesterol. A ativação do mesmo oncogene, na presença do KRAS, promoveu a diminuição de fosfocolina e glicerofosfocolina e o aumento de glutamina, GSH e succinato. Desta forma, concluiu-se que a metabolómica é uma estratégia promissora para a definição de biomarcadores metabólicos para o diagnóstico da pancreatite e dos vários estadios do PC.
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